Relato sobre uma Falésia com agarras cavadas
Por Rodrigo “Genja” Chinaglia
Conversando com alguns escaladores aqui na Itália, pude observar que as falésias com agarras cavadas apesar de existirem, não são muito populares. Quando se fala numa falésia, praticamente o que diferencia entre ela ser um lugar mais ou menos, ou um lugar massa de escalada, é se há agarras cavadas. Na região que estou atualmente, não há academias nem points de escalada. Mas há uma pequena falésia há mais ou menos meia hora cheia de agarras cavadas. E pude ir lá e observar o que foi feito. Não é só de agarras cavadas que se “estraga” um lugar. Poluição visual, má grampeação, entre outras coisas, também podem tornar um lugar belíssimo numa falésia de segunda. Não tive a oportunidade de conversar com os locais especificamente sobre todas as coisas que vi nesta falésia, porém, com todos que eu falava, as agarras cavadas eram o que tirava o brilho do lugar. Aqui é outro país, com outra história, outra cultura, então vou tentar não julgar a atual situação do local, apenas evidenciar o que aqui existe, e fazer um paralelo com a ética da comunidade escaladora brasileira, da qual eu sim faço parte, fornecendo mais argumentos na discussão entre cavar ou não agarras.
O Local
Logo que se chega no local, a primeira impressão que se tem é: “Puts! Maravilhoso!” O lugar é muito bonito, as vias ficam na sombra, tem um caminho que passa próximo as vias e há outros frequentadores que vão lá só pra passear. Há árvores em volta, os escaladores montaram banquinhos com troncos (similar ao que tem na sala de justiça na serra do cipó) utilizando tocos de corda velhos. Porém logo que se bate o olho na parede dá pra notar que tem alguma coisa errada. Eu pelo menos não estava acostumado com toda aquela poluição. Se pra eles é normal, é bonito, eu não sei, la no Cuscuzeiro ou na Invernada não tem isso e ainda bem!
Os impactos
A parede é cheia de fitas, correntes, e costuras abandonadas. Em algumas vias foi adaptada com tocos de corda uma terceira costura entre outras duas, deixando um monte de corda pendurada na parede.
O que mais assusta, é que de uma pequena gruta que há embaixo de uma das vias, foram cavadas dezenas de agarras para se criar um “teto” escalável antes de se entrar na via. São quase 10m de agarras cavadas.
Mas como eu disse, não só de agarras cavadas que se tira a beleza de um local de escalada. Há algumas vias que passam lado a lado, cuja distância entre as chapeletas de uma e outra chega a ser de menos de meio metro!
Mas uma coisa que eu realmente não consigo entender até agora é o porque de tantos furos, com spit, bolt, etc… na altura da cintura do seg, num local que é plano e não tem perigo de se cair para trás.
Em outro, há uma parada com chapeletas arredondadas (químicas) a 40cm do chão. Talvez para dar seg, para se ensinar alguem a montar uma parada? Na falésia? Duvido que se um pino desse custasse 15 ou 20 euros como no Brasil, que se paga 20 reais (pelo menos) num chumbador como este químico com seção arredondada, teriam colocado esta parada ali.
Os croquis
No melhor estilo Mario Arnaud de marcar com tinta no pé das vias o nome e o grau, aqui também tem marcado com esmalte os nomes das vias, e em alguns locais até o croqui, dizendo o nome de duas vias que saem juntas e se bifurcam na metade.
Não precisa nem levar croqui impresso! Que facilidade, isso que é evoluçao da escalada! Brincadeiras a parte, provavelmente essas marcações são antigas, assim como a maioria das coisas que no Brasil consideraríamos erradas, pra não dizer absurdas. Talvez num início da decada de 90 quem sabe, quando as conquistas estavam a milhão, não havia tanto essa consciencia ambiental como nos dias de hoje. É claro, não se pode generalizar dizendo que todos os locais de escalada da europa são feios. Eu só fui em uma falésia, então só estou descrevendo e mostrando como é feio e como seria ruim para o Brasil fazermos coisas como estas em nossas falésias.
Fonte: http://tradfriends.com/2009/06/05/relato-de-uma-falesia-com-agarras-cavadas/