Comprometimento

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Por Luciano Fernandes

Viver a escalada como filosofia de vida é às vezes ingrato. Pois no caminho disso tudo conhece-se pessoas com o menor comprometimento com nada. É evidente que hoje em dia quanto menos comprometida for a pessoa com qualquer coisa (profissão, amizade, respeito, namoro, escalada, cidadania ) mais a pessoa se acha “cool”.
E a convivência(e existência) com este tipo de pessoa é mais próximo a cada um de nós. Pessoalmente acho impossível cada indivíduo como ser social não ter comprometimento com algo. Mas a cada dia se vê mais e mais desrespeito ao ser humano e a natureza. Somos obrigados a conviver com pessoas que se esqueceram de cumprir o que falam, que ignoram a importância de respeitar os companheiros de escalada, que ridicularizam regras de conduta e bom senso, que o mais importante é manter as aparências. Tudo fica lindo enquanto tudo parece lindo. Maquiavel escreveu isso vários séculos atrás.

E cadê o comprometimento de um escalador? O comprometimento de ir escalar nos tempos disponíveis depois de árduos treinos, de respeitar a propriedade privada dos locais de escalada, e mesmo os públicos também, de combinar uma escalada com uma outra pessoa e honrar o compromisso. Alguns dos princípios básicos de um cidadão. Não precisa ser necessariamente um escalador de grau forte, mas precisa ter honra, hombridade, maturidade. Isso para citar o mínimo que se espera de uma pessoa que tenha tido berço. Mesmo nascendo em orfanatos, ou criado “nas ruas” há de respeitar o próximo. E há de ter comprometimento com algo. Enfim ser adulto.
Esta falta de comprometimento tem atrapalhado o esporte que eu pratico. A convivência com a completa falta de respeito(a pessoas e a lugares), o aumento de pessoas que não tem noção do ridículo e bom senso se esparrama cada vez mais. Ir escalar agora se torna um martírio para o escalador comprometido com a escalada, pois se buscava paz e hoje existem pessoas cozinhando no pé da via onde não deve ascender fogo, acampando onde não se deve acampar, defecando onde as pessoas escalam, fumando como se estivessem na balada. A lista de delitos é extensa. Já ouvi de “escalador” que dorme por aí porque se recusa a pagar para dormir. Porque este tipo de pessoa não fica em casa? Por quê? Pela completa falta de comprometimento das pessoas com a escalada, e com o mundo que nos cerca.
É crescente o número de escaladores que se preocupam com o seu umbigo, com a seu bem estar individual se sobrepondo ao do coletivo. As regras de civilidade funcionam para os outros. Vivemos hoje na filosofia da “farinha pouca, meu pirão primeiro”. O comprometimento de um escalador é acima de tudo respeitar o próximo. Parece simples? Sim é simples, mas não para quem acha que o mundo é um playground. Onde não há compromissos, onde não há regras, não há respeito, não há palavra de honra. O compromisso é de enganar e forjar situações para que o bem estar próprio se sobressaia sobre o do coletivo. O compromisso é algo que devemos ter foco. Ao trabalharmos nos comprometermos a executar um amontoado de tarefas durante certo tempo. E para isso, mesmo pago temos de nos mostrar comprometidos com a função. Mesmo que não gostemos. Isso se chama profissionalismo. Ser comprometido com algo que demos nossa palavra. E tem gente que só por não trabalhar, ou não precisar de trabalhar, ridiculariza e menospreza quem tem de fazê-lo. Porque compromentimento para este tipo de pessoa é uma palavra no dicionário e nada mais.
Um escalador que não tem comprometimento, que não sabe que viver em sociedade, e acredita (e se comporta) como ainda todos nós somos macacos é o escalador que enterra a comunidade. Fiz uma minha reflexão sobre alguns “mistérios” do sumiço da escalada dos patrocinadores. E alguns deles é o descaso e o descompromisso dos escaladores com a própria escalada. De nada vai adiantar se um escalador se matar de treinar e se esforçar em resultados como têm acontecido, se no mínimo o grupo que ele está representando é um bando de “porra loucas” que não tem palavra, não tem educação e não tiveram o mínimo de civilidade na alma. Muitos até pensam que se conseguem escalar um alto grau de dificuldade lhes dá um aval de que podem fazer o que bem entenderem, como se isso determinasse a qualidade e a importância dos escaladores.
A cada local de escalada fechado, a cada má impressão deixada pelas cidades de interior afora dos “malucões” escaladores, mais fica evidente que o escalador hoje é visto como alguém que não tem compromisso com ninguém. Afinal comprometimento é coisa para adultos, e se comportar como moleques dá muito menos dor de cabeça e traz muito menos impopularidade.

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