Conservação de Cordas Dinâmicas

Tempo de leitura: 4 minutos
Por: Hilton Benke
A corda dinâmica aparece como um dos principais equipamentos para escalada em rocha, tanto para garantir sua segurança nas ascensões como para possibilitar uma descida tranqüila. Como não temos no nosso país um fabricante nacional de cordas dinâmicas, os únicos equipamentos que dispomos são os importados e, sendo assim, caros. Por isso, e também porque somente usaremos realmente este equipamento num momento de alto risco, devemos zelar pela sua integridade, afim de mantê-lo sempre em condições de uso e em perfeito estado de conservação, aumentando o quanto for possível a sua vida útil.

Porém, antes de mais nada, precisamos definir o que representa a vida útil de uma corda. Muitos fabricantes anunciam que uma corda que não tenha sofrido quedas deve ser aposentada entre 1 ano, quando é utilizada com muita freqüência e sob condições extremas e no máximo 5 anos quando possui pouca utilização. Porém, particularmente, sou contra tal definição – até porque , uma vez que são muitas as variáveis que realmente definem o uso de uma corda, como o tipo de escalada em que é submetida, a região em que se usa com maior freqüência, o equipamento de freio que é utilizado, o zelo e o cuidado em sua armazenagem e utilização e etc. Sob esta ótica, podemos definir que a vida útil de uma corda vai depender mais do tipo de escalada ou do cuidado que o escalador tem com ela, que se ele a utiliza muito ou pouco.

Podemos então definir que um dos maiores responsáveis pelo encurtamento da vida útil de uma corda é o sol. Como sabemos, o sol agride as fibras sintéticas, enrijecendo-as e tornando-as quebradiças. E uma corda com fibras quebradiças não me aparenta muita confiança… Claro que ninguém quer falar aqui para você escalar na sombra ou a noite. O que devemos evitar é deixar a corda exposta ao sol, principalmente quando queremos secá-la. É melhor deixá-la na sombra, em lugar seco e arejado, mesmo que ela fique “fedida”, que secá-la ao sol. Outra dica importante é evitar deixa-la exposta ao sol entre uma via e outra. Se for possível, abrigue-a do sol e do calor, deixando-a numa sobra.

O segundo inimigo da corda é, por incrível que pareça, a própria rocha, principalmente as abrasivas. O negócio aqui é evitar o atrito desnecessário. Pêndulos somente se inevitável, pois pode ter certeza que em cada ida e vinda, a corda tem um monstruoso desgaste. Devemos ter uma atenção especial também à técnica conhecida como TOP ROPE ou CORDA DE CIMA. Apesar de ser uma excelente técnica para quem está iniciando no mundo da escalada em rocha, é também um agressor fenomenal às cordas, pois devido ao atrito com a rocha, a capa acaba por se desgastar mais que o normal, causando danos irreparáveis e as vezes até danificando permanentemente a corda. Para resolver isso, verifique bem o ponto de ancoragem do Top Rope, e os pontos em que a corda tem contato com a rocha. Se puder, use um protetor de corda, evitando o atrito. Evite, novamente, o pêndulo, no caso de queda do escalador. Como o fator de queda praticamente inexiste neste tipo de escalada, dê preferência a cordas mais velhas (mas que estejam em condições) e mantenha as novas para escaladas com maior risco de queda.

Aliás, falando em queda, caso você venha a sofrer uma grande, tipo fator 2, faça uma vistoria em toda a extensão da corda, verificando se houve ou não rompimento da capa e/ou rompimento ou enrijecimento da alma. Caso encontre estes defeitos, inutilize a parte defeituosa, cortando-a em 2 pedaços. Se notar que ocorreram várias rupturas ao longo da corda, não mais a utilize para escalar. Também deve-se evitar “marcar” o meio da corda com tinta. Pode agredir a fibra da corda, enfraquecendo-a. O mesmo se aplica a colas de fitas adesivas. Muitos fabricantes, inclusive, não recomendam a utilização de esparadrapos nas cordas, uma vez que o material do adesivo pode deteriorar as fibras.

O uso de equipamento de freio também agride a estrutura da corda dinâmica. O freio oito, por exemplo, torce demasiadamente a corda. Quando ocorrer isso, o melhor a se fazer é deixá-la pendurada, com toda a sua extensão aberta por algum tempo. Porém como nem todo mundo pode deixar uma corda pendurada em local alto o suficiente, estique-a em lugar limpo e seco e deixe-a por algumas horas, assim as fibras voltam ao normal. Outro cuidado muito importante, diz respeito a velocidade da descida, quando do uso de equipamentos de freio. O atrito da corda com o equipamento, se a utilização for muito rápida, pode gerar temperaturas acima de 300ºC, e acaba por fundir a alma e a capa da corda, enfraquecendo-a, e impossibilitando seu uso, além de prejudicar o próprio equipamento de freio.

Outra dica importante, é evitar a utilização da corda diretamente no pino P para a prática do Top Rope ou da Segurança, pois gera maior desgaste da corda. Sempre prepare uma equalização ou, pelo menos, passe uma fita no P e passe a corda por um mosquetão com trava. Obviamente que isso não se aplica ao rapel para a descida da via.

Não pise na corda, pois algumas partículas de cristais e terra ficam presas na capa da corda, e quando pisa-se nela, estes cristais adentram à alma da mesma, podendo causar pequenas rupturas, que a enfraquecem. Pelo mesmo motivo devemos evitar arrastá-la na terra ou sujá-la em demasia. Se isto ocorrer lave-a em uma banheira, tanque ou em uma bacia grande, utilize apenas sabão neutro, de preferência de coco, e deixe-a secar na sombra por alguns dias. Não utilize qualquer tipo de secagem mecânica ou por temperatura, pois poderá ocorrer enfraquecimento das fibras da corda. Quando for guardá-la, evite deixar nós apertados. Para a sua estocagem, prefira lugares secos e ventilados, longe dos raios de sol e do calor.

Com estes cuidados, provavelmente a vida útil de sua corda aumentará, e ainda trará maior confiança quando estiver guiando aquele “crux” difícil!

Fonte: http://altamontanha.com/altamontanha/artigos/equipo/eq_2.asp

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