Conservação de Cordas Dinâmicas
Porém, antes de mais nada, precisamos definir o que representa a vida útil de uma corda. Muitos fabricantes anunciam que uma corda que não tenha sofrido quedas deve ser aposentada entre 1 ano, quando é utilizada com muita freqüência e sob condições extremas e no máximo 5 anos quando possui pouca utilização. Porém, particularmente, sou contra tal definição – até porque , uma vez que são muitas as variáveis que realmente definem o uso de uma corda, como o tipo de escalada em que é submetida, a região em que se usa com maior freqüência, o equipamento de freio que é utilizado, o zelo e o cuidado em sua armazenagem e utilização e etc. Sob esta ótica, podemos definir que a vida útil de uma corda vai depender mais do tipo de escalada ou do cuidado que o escalador tem com ela, que se ele a utiliza muito ou pouco.
Podemos então definir que um dos maiores responsáveis pelo encurtamento da vida útil de uma corda é o sol. Como sabemos, o sol agride as fibras sintéticas, enrijecendo-as e tornando-as quebradiças. E uma corda com fibras quebradiças não me aparenta muita confiança… Claro que ninguém quer falar aqui para você escalar na sombra ou a noite. O que devemos evitar é deixar a corda exposta ao sol, principalmente quando queremos secá-la. É melhor deixá-la na sombra, em lugar seco e arejado, mesmo que ela fique “fedida”, que secá-la ao sol. Outra dica importante é evitar deixa-la exposta ao sol entre uma via e outra. Se for possível, abrigue-a do sol e do calor, deixando-a numa sobra.
O segundo inimigo da corda é, por incrível que pareça, a própria rocha, principalmente as abrasivas. O negócio aqui é evitar o atrito desnecessário. Pêndulos somente se inevitável, pois pode ter certeza que em cada ida e vinda, a corda tem um monstruoso desgaste. Devemos ter uma atenção especial também à técnica conhecida como TOP ROPE ou CORDA DE CIMA. Apesar de ser uma excelente técnica para quem está iniciando no mundo da escalada em rocha, é também um agressor fenomenal às cordas, pois devido ao atrito com a rocha, a capa acaba por se desgastar mais que o normal, causando danos irreparáveis e as vezes até danificando permanentemente a corda. Para resolver isso, verifique bem o ponto de ancoragem do Top Rope, e os pontos em que a corda tem contato com a rocha. Se puder, use um protetor de corda, evitando o atrito. Evite, novamente, o pêndulo, no caso de queda do escalador. Como o fator de queda praticamente inexiste neste tipo de escalada, dê preferência a cordas mais velhas (mas que estejam em condições) e mantenha as novas para escaladas com maior risco de queda.
Aliás, falando em queda, caso você venha a sofrer uma grande, tipo fator 2, faça uma vistoria em toda a extensão da corda, verificando se houve ou não rompimento da capa e/ou rompimento ou enrijecimento da alma. Caso encontre estes defeitos, inutilize a parte defeituosa, cortando-a em 2 pedaços. Se notar que ocorreram várias rupturas ao longo da corda, não mais a utilize para escalar. Também deve-se evitar “marcar” o meio da corda com tinta. Pode agredir a fibra da corda, enfraquecendo-a. O mesmo se aplica a colas de fitas adesivas. Muitos fabricantes, inclusive, não recomendam a utilização de esparadrapos nas cordas, uma vez que o material do adesivo pode deteriorar as fibras.
O uso de equipamento de freio também agride a estrutura da corda dinâmica. O freio oito, por exemplo, torce demasiadamente a corda. Quando ocorrer isso, o melhor a se fazer é deixá-la pendurada, com toda a sua extensão aberta por algum tempo. Porém como nem todo mundo pode deixar uma corda pendurada em local alto o suficiente, estique-a em lugar limpo e seco e deixe-a por algumas horas, assim as fibras voltam ao normal. Outro cuidado muito importante, diz respeito a velocidade da descida, quando do uso de equipamentos de freio. O atrito da corda com o equipamento, se a utilização for muito rápida, pode gerar temperaturas acima de 300ºC, e acaba por fundir a alma e a capa da corda, enfraquecendo-a, e impossibilitando seu uso, além de prejudicar o próprio equipamento de freio.
Outra dica importante, é evitar a utilização da corda diretamente no pino P para a prática do Top Rope ou da Segurança, pois gera maior desgaste da corda. Sempre prepare uma equalização ou, pelo menos, passe uma fita no P e passe a corda por um mosquetão com trava. Obviamente que isso não se aplica ao rapel para a descida da via.
Não pise na corda, pois algumas partículas de cristais e terra ficam presas na capa da corda, e quando pisa-se nela, estes cristais adentram à alma da mesma, podendo causar pequenas rupturas, que a enfraquecem. Pelo mesmo motivo devemos evitar arrastá-la na terra ou sujá-la em demasia. Se isto ocorrer lave-a em uma banheira, tanque ou em uma bacia grande, utilize apenas sabão neutro, de preferência de coco, e deixe-a secar na sombra por alguns dias. Não utilize qualquer tipo de secagem mecânica ou por temperatura, pois poderá ocorrer enfraquecimento das fibras da corda. Quando for guardá-la, evite deixar nós apertados. Para a sua estocagem, prefira lugares secos e ventilados, longe dos raios de sol e do calor.
Com estes cuidados, provavelmente a vida útil de sua corda aumentará, e ainda trará maior confiança quando estiver guiando aquele “crux” difícil!
Fonte: http://altamontanha.com/altamontanha/artigos/equipo/eq_2.asp