As Escaladas de Pancas

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Na edição #121 do Mountain Voices foi publicada uma matéria que escrevi sobre as escaladas existentes em Pancas. Texto esse que segue abaixo e que ilustra um pouco as incríveis montanhas desse município e suas escaladas.

Clicando no “Saiba mais” de cada via, será direcionado à um texto detalhado com croqui e fotos.

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NAS MONTANHAS DE PANCAS

Texto e Fotos: Oswaldo Baldin



Este município é um dos que mais concentra paredes rochosas no estado, formando uma extensa cadeia montanhosa que impressiona e se estende até o município vizinho de Águia Branca. Unidos por essas inúmeras montanhas aglomeradas umas as outras, estes dois municípios formam o “Monumento Natural dos Pontões Capixaba”: um promissor destino para a prática do montanhismo, vôo livre, e outros esportes de aventura.

Pedras da Agulha, Gorila e Gaveta. Foto Oswaldo Baldin.


A escalada iniciou em Pancas em 1959 com a conquista da Pedra da Agulha, que foi um marco na escalada brasileira. Passou-se décadas, até que no ano de 2000 a Pedra da Gaveta foi escalada pela sua face frontal. Mais recentemente, a partir de 2009, a cidade vem recebendo com mais frequência a visita de escaladores, e com isso outras montanhas foram sendo conquistadas. Como a Pedra do Camelo, Pedra da Cara, do Operário, Pedra da Mula e do Jacaré. Todas estas vias no estilo da escalada tradicional, como não poderia deixar de ser, devido as grandes proporções dessas montanhas.


Portal de entrada da cidade. Foto Oswaldo Baldin.

Abaixo segue um apanhado sobre cada uma destas conquistas, que vem a mostrar como está o cenário atual da escalada em Pancas, que já vale muito uma visita! 


PEDRA DA AGULHA
Em uma época de um montanhismo aventureiro e heróico, no dia 16 de junho de 1959 cinco escaladores do CERJ (Centro Excursionista Rio de Janeiro): Giuseppe Pellegrini, Nélson Bravin Teixeira, Emil Mesquita, Carlos Russo e Rodolpho Kern, pisaram no cume da Pedra da Agulha pela primeira vez, depois de terem conquistado os 450 metros da “Chaminé Brasília” usando somente 26 grampos. Esta via foi considerada durante muitos anos como umas das mais difíceis do Brasil. Passando décadas teve poucas repetições, tamanha sua complexidade considerada até os dias de hoje. Saiba mais.
 
Recentemente a Agulha recebeu mais uma via, na face oposta da Chaminé Brasília. Uma escalada de 600 metros batizada de “Paredão Bernardo Collares”, conquistada por Gustavo Silvano (RJ) e Claudia Faria (SP). Uma via que consumiu cinco dias de ascensão da dupla, feita em uma linda aresta com a maior parte em escalada em livre de 4º à 7º grau, em agarras, fendas e chaminé, e pouco trecho em artificial. Chegaram no cume a meia noite do dia 17 de julho de 2011, concluindo outra bela linha na Agulha. Saiba mais.

PEDRA DA GAVETA
Após três investidas à Pancas, os escaladores cariocas Gustavo Silvano, Renato Moura e Cosme atingiram o cume desta imponente montanha no dia 30 de agosto de 2000. Fica localizada um pouco antes da entrada da cidade, e por ter próximo ao cume um enorme buraco com as dimensões de aproximadamente 100 metros de frente x 30 metros de profundidade x 50 metros de altura, os conquistadores batizaram a montanha de Gaveta, e a via de “Paredão Carlos Bernardo”, uma grande escalada com trechos de aderência, chaminé e artificial em cliffs. Saiba mais.

PEDRA DA JARARACA
Com formato de um pontão, esta pedra fica encostado à outra montanha maior. Durante o feriado de carnaval de 2008, André Ilha e Yuri Berezovoy subiram esta montanha em um só dia. A batizaram com este nome devido ao encontro desagradável que tiveram com duas jararacas. A via “A Natureza na Passarela (4º V+ A1)” entremeia trechos de escalada com outros longos de vara-mato, sendo 100 metros o somatório aproximado dos diversos segmentos de rocha.

PEDRA DO OPERÁRIO
Em dezembro de 2009 os escaladores capixabas Oswaldo Baldin e Paulo Henrique Munhoz fizeram sua primeira investida de conquista em Pancas. Por incentivo dos moradores optaram em abrir uma via em um paredão literalmente encravada dentro da cidade, no Bairro do Operário. Escalando debaixo de um sol muito forte, foram observados pelos moradores durante toda a progressão pela rocha. E com 330 metros de escalada conquistaram a via “MissPanca (4º V A1)”, soltando fogos no cume em comemoração e agradecimento aos moradores de Pancas que foram muito receptivos com a dupla. Saiba mais.
 
PEDRA DA CARA
Ao aproximar da cidade de Pancas, um portal natural de grandes proporções recepciona o visitante e faz brilhar os olhos de qualquer escalador que visite a região. Este portal é formado pelas pedras da Agulha, Cara, Gaveta e Camelo. No dia 1º de abril de 2010 Oswaldo Baldin e Marcos Palhares “Tatu” traçaram uma linha na aresta de maior extensão da Pedra da Cara, e em um período de 04 horas conquistaram a via “Face Oculta (4º IV+ E3)”, com 290 metros. Uma escalada muito bonita, pois esta montanha esta centralizada em meio aos monumentos mais famosos de Pancas: Agulha, Gaveta e Camelo. Saiba mais.

PEDRA DA MULA
Após a conquista na Pedra da Cara, Oswaldo Baldin e Marcos Palhares receberam Sandro Souza em Pancas e partiram para o distrito de Lajinha. Foram atraídos pela curiosa e grande cratera de cor amarelada no meio da montanha denominada Pedra da Mula (devido ao formato deste buraco), muito conhecida na região. Traçaram uma linha óbvia na montanha que seguiria por uma fenda de 150 metros até o grande buraco. Enfrentaram uma escalada em meio a muitas fendas e chaminés de diversas espessuras. Atingiram o grande buraco no pôr-do-sol do dia 04 de abril de 2010 e soltaram fogos que foram ouvidos de Lajinha. Passaram a noite no buraco, que mede cerca de 30 metros de altura por 50 metros de largura, é plano, e tem muita areia no chão. A via foi batizada de “Cor de Mula Quando Foge (6º VI+ E3/4)”, e utiliza-se muitas proteções móveis. Saiba mais.

FALÉSIA RAASH
No intuito de fomentar em Pancas uma cultura de montanha e em um futuro breve que escaladores locais surjam na região, Oswaldo Baldin e Marcos Palhares escolheram uma falésia próxima a cidade e que possui um acesso facilitado, para desenvolver um campo escola. O local ganhou este nome em virtude da família Raash que reside aos pés da falésia. A primeira via aberta em abril de 2010 foi a “Fecha a Conta e Passa a Régua (VI)” com 50 metros. Em Pancas até as vias esportivas tem grandes proporções! Muitas outras possibilidades de vias existem nesta falésia, sempre remetendo à escalada com lances técnicos, que uma boa aclimatação para o estilo das longas vias de região. Saiba mais.

PEDRA DO CAMELO
Após três dias de escalada entre muitas fendas e chaminés, Gustavo Silvano e Leonardo Alvarez finalizaram a via “Deserto Vertical (6º VIIa E5)” em setembro de 2010, com 500 metros de extensão. A linha fica localizada entre a “cabeça” do Camelo e uma montanha encostada à ela, formando assim este sistema de fissuras. Durante a conquista acabaram as proteções fixas e tiveram que improvisar no trecho final, ‘parando’ nas duas ultimas em brocas de 1/2. Terminada a via desceram por detrás da montanha, entre trechos de caminhada e costões.

PEDRA DO JACARÉ
Esta montanha fica localizada dentro do Córrego do Palmital. Quando avistada do asfalto, todo o complexo lembra a cabeça de um jacaré. Na face que fica de frente para o Sítio Cantinho do Céu (camping que recebe os escaladores), foi conquistada em 06 de junho de 2011 a via “Casa da Mãe Joana (4º VI E3)”, por Oswaldo Baldin, Hermes Pereira e José Luiz Pappone. Uma escalada com 330 metros toda em livre e lances técnicos em cristais: uma característica das vias de região. Desse cume tem-se uma vista espetacular das principais montanhas de Pancas. Saiba mais.

E recentemente a Pedra do Jacaré ganhou sua segunda via, a “Terceiro Elemento (4º V D2 E3/4, 530m)”, que segue a linha de maior extensão da montanha, começando em uma face e terminado em outra. Foi conquistada em por Oswaldo Baldin, Hermes Thorvalden, Marcos Palhares e Samuel Amaro em 08 de Junho de 2012. Saiba mais. 

PEDRA DA BOCA
Outra montanha localizada no Corrégo do Palmital é a Pedra da Boca, que ganhou sua primeira via em 11 de marcço de 2012 por Zé Márcio Dorigueto, Thiago Coelho e Giovana Lanes, que conquistaram a “Irara (4º V D1 E2, 240m)” na parte detrás do grande negativo que dá nome à pedra. São 100m de escalada com proteções fixas, e o restante escalaminhada limpa com paradas em árvores.


Estas vias são uma pequena amostra do enorme potencial que o “Monumento Natural dos Pontões Capixaba” tem a oferecer para a prática do montanhismo no Espírito Santo. “Em Pancas, mais difícil do que conquistar, é escolher qual montanha a conquistar.”


Monumento Natural dos Pontões Capixaba. Foto Marcio Carreiro.


RECOMENDAÇÕES:

Estas escaladas foram abertas com muito empenho e dedicação de seus conquistadores. Portanto respeite a ética, e jamais altere (acrescente ou retire grampos/chapeletas) destas vias sem a autorização dos conquistadores.

É sempre válido um diálogo com os escaladores que estejam conquistado no local, para assim traçar melhor novos projetos de conquistas que venham a ajudar no desenvolvimento da escalada na região. 

Para repetir estas vias entre em contato com quem já as escalou. Assim poderá obter dicas preciosas que poderá fazer “a” diferença para o sucesso da sua escalada. A maioria das vias possuem livro de cume!

As montanhas estão localizadas dentro de propriedades particulares. Não deixe de comunicar e pedir autorização de acesso aos moradores. Praticando a gentileza e a educação, poderá comprovar a total hospitalidade do povo de Pancas.


Anoitecer no Córrego do Palmital. Foto Oswaldo Baldin.

DICAS:

A melhor época para escalar em Pancas é no inverno, pois a cidade é conhecida como uma das mais quentes do Espírito Santo. Fato este que pode ser muito bem compreendido quando se observa a cidade de cima da rampa de Vôo Livre (Pedra da Colina), e pode-se ver a enorme quantidade de paredes que circundam (e esquentam) a cidade.

Para se hospedar na área urbana, uma ótima pedida é a Pousada Ninho da Água, de onde se tem uma vista privilegiada da cidade e das paredes no entorno (27-3726-1572). Outra opção na cidade é o Hotel Acácia na avenida principal. Mas se sua opção for estar em meio as montanhas, pode ficar acampado no Sítio Cantinho do Céu, localizado no Córrego do Palmital e encravado no meio de imensas e belíssimas montanhas (27-9873-3385).

Os principais restaurantes da cidade são o da Santina que fica na praça, e o Degas na entrada da cidade.

Maiores informações sobre os pontos turísticos de Pancas podem ser obtidas com o Elson Nascimento na Secretaria de Turismo, que fica próxima a praça/igreja.



Videorreportagem: As Potencialidades de Pancas

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