Conquista da Laços de Família no Cinco Pontões
No decorrer deste trajeto o Zudi e o Antônio haviam instalado – além das cordas anteriores – duas chapas (4º grau) para vencer à esquerda, um blocão que forma uma buraco/chaminé//coisa estranha, evitando passar por ele. Depois descendo pela mata chegamos na base da “Onda” onde estavam o Antonio e o Zudi, parados, sentados na base, e afastados da via. Um clima um tanto duvidoso no ar. E eu achando que ao decorrer do nosso acesso ouviria a furadeira em ação. Mas nada, nenhum zoado de furo.
Numa ocasião anterior eles já haviam instalado quatro chapeletas para vencer uma barriga em artificial transpondo uma chaminé imensa que separa as duas “Ondas”, e forma na verdade um buraco, mas que se consegue alcançar a chapa do outro lado com facilidade. E a base dessa conquista é comum para sair também para a via “Quebrando Paradigmas”, conquista de 2014.
Após papo vai e papo vem sobre qual seria a melhor linha, o Zudi fazendo corpo mole querendo sair fora de ir ao encontro da rocha virgem, me vesti então com as tralhas da conquista e comecei os trabalhos. Subi o pequeno trecho do artificial de quatro chapas, me preparei para sair em livre, e o sujeito que me intimou pra essa conquista e, que me convenceu a mudar meus planos me diz: “Faça uma via pra ficar bem protegida e a galera poder repetir tranquila.” Bom, como fui um convidado, e visto que a rocha era péssima de parar pra furar, essa frase foi praticada.
Depois da P1 fiz uma horizontal fácil para direita. Analisando por onde a linha continuaria a opção escolhida era na reta, porém numa parede quase vertical e sem agarras que pudesse parar em cliffs e furar. E é ai que mora o dilema da conquista: você está diante de uma sequência que sabe que dá pra mandar em livre – depois da via aberta -, porém para conquistar não tem como parar nos lances pra furar, naquele caso nem na “batata da perna” em algum cristal e nem em cliffs de agarra. Como a ideia era fazer uma via para ser bem acessível, entramos num acordo de passar em A0 para depois as repetições terem a opção de passar em livre ou em artificial, e assim permitindo acessibilidade para todos os gostos.
Depois do artificial bati uma parada, e o final da onda já podia ser visto. Numa sequência de escalada em livre fácil sai até de bota, porque não aguentava mais a sapatilha fritando no pé. Bati a parada do final da via, levantei o pescoço por cima da onda e lá estava a outra face da montanha. A pedra que escalamos parece uma língua jogando pra fora do paredão, dando uma sensação incrível de negatividade. E cume possuindo nada mais que 1 metrinho de largura. O livro deixamos em uma marmita debaixo do bloco à esquerda da parada.
Missão cumprida, em partes. O retorno ainda demandaria uma sequência de caminhada, jumareada, jumareada novamente, rapelada, caminhada, carro e, cerveja! E foi só lá pela meia noite que tomamos a tão desejada cerveja no Sítio Recanto da Pedra, saboreando a comida da Luzia.
Neste ultimo final de semana o Naoki e o Afeto fizeram a primeira repetição da via – após terem conquistado uma nova linha no 17 de Julho – e passaram em livre o lance saindo da P1 e depois a sequência de A0, dando 5º+ para ambos os lances. Fica ai as duas opções para futuras repetições.
O nome da via se refere a um hábito que foi se criando na escalada capixaba de que, quando alguém é iniciado na prática sempre pergunta-se sobre com quem o novato escalador aprendeu a escalar, dirigindo a esse como o “pai” (ou mãe) da cria. E isso acaba criando um vínculo na comunidade. Como o Tatu foi um dos meus primeiros alunos há mais de 10 anos, O Zudi e o Brunoro numa geração mais recente, e o Antônio provavelmente também será, assim fluiu o nome. Estávamos em família! rs
Valeu Zudi pela parceria na conquista, e por ter me convencido a mudar meu destino. E obrigado aos comparsas Brunoro, Tatu e Antônio, que foram fundamentais para o apoio e logística, que resultou nessa escalada super de boas energias nessa que é na minha opinião, a montanha mais exótica e imponente do ES.
Dicas para repetição:
– A primeira dica é entrar em contato com o Antônio, pois ele tem sido a referência sobre informações de acessos, apoio e é a base dos escaladores e outros aventureiros com seu sítio aos pés da montanha. (27) 99767-5150.
– A logística para acessar essa via é: subir o Pontão Maior pela – polêmica – via ferrata e rapelá-lo de frente ao Pontão Gêmeo, deixando uma corda fixa de 50m nesse trecho. Ir até o meio da Cangalha (colo que une o Maior com o Gêmeo) e rapelar 40m deixando outra corda fixa. Caminhar pela matinha – que fica à uns 300m de altura – e passar um lance à esquerda com duas chapas para contornar um blocão que forma uma chaminé. Depois é continuar caminhando e descer pela mata. Neste local é o acesso para (na sequência descendo) o Pitoco do Alemão, Pontão Casagrande, 17 de Julho, vias K-Olho, Laços de Família e Quebrando Paradigmas.
– De equipo são 10 costuras e pelo menos dois estribos. Fora as duas cordas fixas é possível escalar a via com somente uma corda. Se tiver com duas de 60m a vantagem é que dá para rapelar a via toda de uma só vez.
– Em breve publico o croqui. 🙂