Conquista da via Terceiro Elemento em Pancas

Tempo de leitura: 5 minutos
Em meio ao último feriado batemos no cume da parte mais alta da “Cabeça” da Pedra do Jacaré, deixando conquistados 530 metros da via batizada de Terceiro Elemento. Elemento este que fez muita falta em uma investida, e foi fundamental em outra…
Visual do cume da Cabeça do Jacaré. Foto Oswaldo Baldin.
O namoro com essa linha começou no ano passado, logo após eu e Soldado termos conquistado a via Casa da Mãe Joana (juntamente com o Zé Luiz) nesta mesma montanha, porém em outra face. Naquela mesma ocasião, com o sangue ainda quente da conquista que acabávamos de fazer, já vislumbramos alcançar futuramente o cume mais alto da Cabeça do Jacaré. Traçamos a linha imaginária que costuraria a face de maior extensão da montanha e fomos embora com o próximo objetivo em Pancas já traçado.

 Linha da via Terceiro Elemento com 530m. Foto Oswaldo Baldin.
Alguns meses depois voltamos ao montanhoso Córrego do Palmital com o Marcos Palhares ‘Tatu’ e iniciamos a conquista, subindo uns 300 metros. Tudo estava fluindo muito bem, quando alguns imprevistos começaram à aparecer. Tatu começou a ter uns calafrios e tremer absurdamente, isso debaixo de um sol escaaaaldante das 13 horas (sol de Paaaaancas no verão!). Pra ter idéia da situação, o cabra se enrolou à um anoraque naquele calor todo! E junto à isso o Soldado deu um vôo parede abaixo quando conquistava um crux na quinta enfiada, e na queda veio arrastando platô e tudo que achou na reta. Mas não teve maiores sequelas (a não ser mentais, rs). Com isso resolvemos encerrar os trabalhos e baixar da montanha. 
Clique para ampliar o croqui.

Na segunda investida o terceiro elemento Tatu não pode ir. Eis que eu e Soldado tivemos a infeliz idéia de arrastar um mini haul bag com as águas e material de conquista pelas cinco enfiadas. Isso atrasou bastante nosso avanço. O dia estava super seco e quente. Mas depois das tralhas na P5 continuamos à conquistar. Resolvemos fazer uma horizontal para a esquerda e assim atingimos outra face da montanha (a face onde esta a via Casa da Mãe Joana). Parti então para conquistar a sétima enfiada, quando um temporal despenca em cima de nós. Praticamente nada de progressão nessa investida. Bati um grampo debaixo da chuva e descemos…
Efeitos causados pelo verão de Pancas na segunda investida.
Foto Oswaldo Baldin.
O calendário pendurado na parede (das Escaladoras do Brasil, logicamente) mudou. Entramos em 2012 e a pendência dessa conquista vinha se arrastando. Tatu novamente não poderia ir, mas somente em dois nós não voltaríamos. No impasse de um terceiro elemento eis que surge de última hora o mano Samuel Amaro. E motivados para bater no cume nessa terceira investida nos dirigimos para Pancas.

Pedras da Agulha, Gorila e Gaveta. Foto Samuel Amaro.

O Samuel seguiu guiando as seis enfiadas conquistadas, e eu e Soldado subimos levando o peso. O logística dessa vez foi muito boa, e nos adiantamos mais do que o planejado. Resolvemos  intermediar um lance na quinta enfida acrescentando uma chapeleta que certamente aliviará o psicológico das futuras repetições. Do belo platô da P6 sai guiando a enfiada que havia deixado pendente para terminar (?). Fui escalando e dei de cara com uma parada já batida! Mas como assim? Dois grampões brilhosos que fizeram meus olhos focarem vermelhos de nervoso. Fiquei louco, achando que alguém teria entrado na via e batido aquilo lá! Mas depoooooooooois me dei conta que fui eeeeeeu mesmo que havia batido essa parada da vez anterior.

Viu o efeito de passar um calor danado e derepente receber uma chuva gelada? Deu um choque na mente, que gerou um apagão no HD cerebral. Ai, ai, memória…

 
 Foto Samuel Amaro.
Conquistei a oitva enfiada com a rocha já bem positiva, e o Soldado a última, montando a parada em uma árvore. Chegamos ao cume às 13 horas, tendo escalado em um dia super agradável, bem nublado, mas com um visual fantástico das montanhas ao entorno. Soltamos dois rojões – seguindo a tradição das conquistas no ES – que foram recepcionados com gritos pelos moradores que trabalhavam nas várias lavouras de café.
O visual do cume.

Deixo meu agradecimento a família Stur que sedeu mais uma vez com cordialidade o acesso à montanha por suas terras. À Dona Joana e Fabinho que sempre recebe os escaladores super bem em seu Sítio Cantinho do Céu. E valeu mano Tatu pela força na primeira investida.

Foto Joyce Wandermurem.

Dicas para repetir a via:

– Levar 7 costuras, sendo que umas 4 com fitas de 60cm ajudam.
– A parada do topo é feito em uma árvore de troco avermelhado. O livro esta  na base dela. Deixe-o bem protegido.
– É preciso duas cordas com 60m para possibilitar o rapel. Da P8 abrimos um rapel em linha reta para evitar a travessia horizontal (veja essa parada no croqui). É preciso MUITA atenção nesse rapel, pois a corda de 60m dá no limite, ou seja, cuidado depois de se ancorar  – na parada para rapel que existe no início da horizontal – para não soltar a corda. Se soltar, com a elasticidade ela vai subir e sair do seu alcalce. Se ligue nisso!
– Vale muito à pena sair caminhando uns metros acima do final da via. Isso te levará ao cume da Cabeça do Jacaré em um lajão com um grande visual.
– Seja sempre muito cortês com a população local, que vem dando muito apoio à nós escaladores.
Nos dias 04 e 05 de Agosto Pancas irá sediar o Festival Capixaba de Escalada 2012. Em breve estaremos fazendo ampla divulgação do evento, e esperamos ver escaladores do Brasil à fora desfrutando dessas grandes vias.

2 Responses to “Conquista da via Terceiro Elemento em Pancas

  • Show de bola!
    mais uma via tradicional para a gente desfrutar.
    Obrigado Baldim, Samuca, Soldado e Tatu.

  • É isso aêr Fábio, a via ficou longa e acessível. Tu vai curtir. Abç!

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