Conquista do Bico da Coruja em Águia Branca
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Existem aquelas formações rochosas em que a mente fica confusa quando alguém diz o nome e você não consegue visualizar o infeliz do tal formato que a faz a montanha ‘parecer’ (?) com um animal, objeto e outras coisas. Mas tem aquelas cujo o nome já diz o óbvio, e certamente o Bico da Coruja se enquadra no perfil de não exigir nada da sua imaginação. Uma montanha com um formato muito peculiar, em que André ‘Tesourinho’, Marcos ‘Tatu’ e eu conquistamos uma via que se estendeu por 500 metros finalizando debaixo do grande bico.
A exótica Bico da Coruja. Foto Oswaldo Baldin.
O reconhecimento do local e os primeiros metros da via foram conquistados durante o Carnaval de 2013. Na ocasião o Neyangelo – que é morador aos pés da Coruja – nos levou até a face em que visualizamos a linha, e lá obtivemos a autorização do acesso pelos proprietários das terras, Malvino e Sergio. Visualizamos e traçamos o que seria a linha mais óbvia da montanha para conquistar. Acessamos a base da pedra e conquistamos as duas primeiras enfiadas nesta ocasião. Essas duas enfiadas tendêciam levando a via pra esquerda, e são lances em agarras bem protegidos (E2) que chega em um platô.
Final da primeira investida no platô da P2. Foto Oswaldo Baldin.
A segunda investida fizemos pouco tempo depois, aproveitando feriado do Dia das Mães. Voltamos aos trabalhos à partir da P2 e continuamos a conquista fazendo uma travessia horizontal pra esquerda, indo em direção a uma parte mais íngreme e limpa da rocha que resultou em uma belíssima enfiada, a mais bonita da via! Lances técnicos em agarras fazendo uma leve diagonal pra esquerda e muito bem protegidos, no padrão ‘esportivo’, pra escalar tranquilo e só na curtição. Fizemos uma parada após este lance, que fica como opcional para diminuir o arrasto da corda. Depois a enfiada ‘continua’ reta, e resolvemos deixar um pedaço de corda fixa em um pequeno trecho que conquistamos em cliffs. Fizemos isso para evitar que quem for repetir, tenha que levar cliffs para fazer um trecho muito pequeno de artificial.
Segunda enfiada: o filé da via! Foto André Santos.
A enfiada seguinte é bem fácil e foi uma travessia pra direita, que continua a seguir a linha que observamos debaixo. Depois a quinta enfiada sai transpondo um pequeno diedro e toca reto, onde no caminho é possível proteger numa árvore antes do primeiro grampo, e depois os grampos dessa enfiada ficam mais próximos em um pequeno trecho onde a rocha ficou mais íngreme e assim finaliza a P5.
P3, e a segunda parte da via. Foto Oswaldo Baldin.
A sexta enfiada sai num pequeno trecho em livre e já entra numa matinha, onde o rumo foi fazer uma travessia (caminhada) para a esquerda até pegar o rampão que levaria ao Bico. Neste ponto a rocha fica com a inclinação bem tranquila, e dai em diante a conquista fluiu mais rápido (E3). Foram duas enfiadas até atingir uma outra matinha (P8) onde fizemos a parada numa árvore. E neste ponto o Bico já estava ali, bem ao nosso lado!
Os Três Pontões visualizados da via. Foto Oswaldo Baldin.
Com mais um pequeno trecho de escalada chegamos ao Bico e atingimos o nosso objetivo da conquista batizando a via de ‘Grão de Bico’, visto a ‘insignificância’ de nós três lá dentro daquele blocão de grandes proporções. Deixamos numa fenda acima da parada o livro para o registro das futuras repetições.
Trecho da quinta enfiada. Foto Oswaldo Baldin.
Estiveram dando força nessa conquista os manos Levy Sossi no comando do volante e com sua rede na base da via mandando positividades, e o Fred Knopp que percorreu 140km pra nos levar pão com ovo de café da manhã. Esses são ‘os caras’! rs.
Agradeço à Vera Fedeszen pela força que sempre dá aos escaladores. Ao Neyangelo e sua família que nos receberam muito bem em sua casa. Ao Sergio e Malvino por liberar gentilmente o acesso no local, e ao Figueredo, o figuraça que com suas aguçadas cordas vocais cantou pra gente por meios dos seu poderoso assovio, durante toda a conquista.
Finalizando a conquista no Bico. Foto André Santos.
Sobre a Via…
São 500 metros que podem ser divididos em duas partes: as três primeiras enfiadas que tem a rocha mais inclinada e mais técnica a proteção esta bem tranquila protegendo os lances, no padrão E2. E à partir da quarta enfiada a rocha vai perdendo mais inclinação, fazendo a escalada ser mais fácil e a exposição é E3. Toda essa via esta pronta para ser escalada em livre, sendo que um…. . Toda protegida em grampos P’s e com paradas duplas. O croqui ajudará bastante na repetição: imprima e leve!
Clique para ampliar.
Sobre o local…
Para chegar lá a entrada da pedra fica antes da cidade de Águia Branca (indo no sentido de Vitória) se atentar que ao lado direito da rodovia ES-080, fica a entrada da estrada de terra batida que leva a Pedra Bico da Coruja. A referência da entrada é o Bar Strzepa (nome em alemão) que tem anexo um campinho, em frente a entrada de terra batida existe um ferro velho, é impossível não ver a pilha de carros batidos, após acessar a estrada de terra batida siga pela estrada principal por 6km pelo sentido óbvio (?) do Bico da Coruja.
A casa que tem recebido os escaladores no local é da família do Neyângelo. Apesar do acesso para a via não esta dentro de sua propriedade, é recomendável avisar que você estará por lá e ele provavelmente te ajudará indicando o caminho pra via. E para acessar a base dá pra ir com o carro até bem perto da pedra por uma estradinha que vai margeando à sua direita, e a via fica localizado no que poderia ser considerada parte detrás da pedra. O local pra deixar o carro é perto de um pequeno ‘barraco’ de madeira onde você possivelmente será recepcionado pelo Figueiredo: o guardião da Coruja. Converse na boa e com tranquilidade com ele.
Marcos ‘Tatu’, André ‘Tesourinho’ e Oswaldo Baldin no final da via.
Oswaldo, sou admirador de escaladas, não praticante.
Muito bacana essa postagem!
Fiquei interessado na beleza cênica (e fotográfica) do Bico da Coruja.
Gostaria de saber qual o melhor horário para fotografias no local (e se possível as coordenadas precisas).
Agradeço muito se puder dar essa dica.