Conquista na Lajinha – 1ª Investida

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Por muitas vezes que vislumbro uma possível nova linha para conquistar nem sempre a realização vem a acontecer naquela fase atual. Por muitas vezes o projeto fica adormecido por um bom tempo – às vezes por muito mais do que desejaria – aguardando oportunidades, que podem ser das mais diversas possíveis. Desde à ter um determinado nível técnico para tal escalada, e/ou ter parceiros que tenham a disposição e conhecimento para encarar tal projeto. E um ponto crucial: conseguir conciliar a disponibilidade de tempo entre estes parceiros. Essa sim, é uma das maiores dificuldades que vivêncio ao longo dos anos, e dos projetos.
Pedra da Lajinha em Afonso Claudio. Foto Fábio Guerra.
Assim foi com o projeto de conquista na Pedra da Lajinha. Montanha essa que me foi apresentada por amigos de Afonso Claudio há uns oito anos atrás, quando me convidaram para um rolê para conhecer as montanhas deste município localizado na região serrana do ES. E dentre as diversas montanhas, a Lajinha me chamou muito a atenção, tamanha eram suas proporções. De cara já vislumbrei uma linha para conquistar, que seria bem longa, e que cortaria a face norte, que é a de maior extensão da montanha.

 

Sítio do Nino e Adriana aos pés da montanha. Foto Oswaldo Baldin.

Esse projeto ficou na mente por anos, aguardando pelo momento certo… Até que em janeiro de 2012 fui com o Fábio Guerra até Afonso Claudio para repetir algumas vias (veja aqui), juntamente com o Robinho (escalador local). E depois das escaladas pedi para o Robinho nos levar na Lajinha. Senti uma grande necessidade de olhar novamente aquela parede. E lá, aos pés dela, pude atualizar a minha mente sobre aquele antigo e grande projeto. Voltamos em êxtase para Vitória, acreditando que agora sim, seria – aquele – momento!

 A face norte. Foto Oswaldo Baldin.

Mas oito meses se passaram até que surgisse uma data favorável e conciliável entre quatro elementos que integrariam a empreitada. E eu estaria na boa companhia dos manos Fábio Guerra, Robinho e Sandro Souza. Alongamos o feriado de 07 de Setembro para assim termos quatro dias para conquistar, até a altura em que nossas energias e o tempo permitisse.
Fomos muito bem recepcionados pelo Nino, Adriana e Alex, que moram ao sopé da montanha. E depois de alguns ajustes com as bagagens rumamos para a base, pesados como sempre pelo excesso de equipamentos e mantimentos. Mas por sorte a caminhada é bem rápida e tranquila.

 Os Cinco Pontões avistado do alto da Lajinha. Foto Oswaldo Baldin.

A parede era imensa, e ao mesmo tempo que tinha o poder de nos empolgar também nos intimidava. E eis que no primeiríssimo grampo a furadeira resolvera não funcionar! Isso por um momento fez bater um grande desânimo grupal. Tínhamos quatro dias de conquista pela frente e sem a agilidade da furadeira o progresso seria muito lento, pois a linha por ser muito longa e sem a presença de nenhuma fenda exigiria a fixação de muitos grampos. Mas o desânimo durou pouco. Como é sempre muito bom estar com parceiros que sabem contornar os imprevistos com muita boa vibe, nos lançamos no desafio de conquistar na força braçal. E assim fomos, furando à base de batedor e marreta!

Primeiro trecho da escalada sendo conquistado. Foto Roberto Livre.
No primeiro dia conquistamos duas enfiadas, onde a rocha já nos demonstrou que a escalada seria em cristais ao longo de sua extensão. E cristais bem sólidos, para nossa alegria. À noite fomos à cidade para fomentar a economia local (tomar algumas geladas), e voltamos para pernoitar no sítio.
Na manhã seguinte o Robinho chegou para completar o time, e com mais duas enfiadas a parede começou à dar uma positivada fazendo adiantar o progresso. Neste segundo dia conquistamos até a P7, com 400 metros de rocha escalada. O sol ainda estava alto no céu, mas resolvemos encerrar os trabalhos mais cedo. Deixamos cordas fixas nesse trajeto e voltamos para pernoitar na base.
Acampamento base. Foto Oswaldo Baldin.
Resolvemos abandonar a base no terceiro dia, e jumareamos levando tudo que precisaríamos para os outros dois dias parede acima para um acampamento numa parte mais suspensa. Depois do esforço nas acensões com as mochilas pesadas, conquistamos um trecho bem fácil que deu acesso ao colo da montanha, por onde é possível chegar também caminhando. Até este ponto fica bem definido como a primeira parte da escalada. E adiante, na aresta, como a segunda parte, com uma parede mais íngreme e deafiadora.

 Rumo ao quarto dia de conquista. Foto Oswaldo Baldin.

Tivemos a visita dos amigos Robinho e Bosco que chegaram caminhando. Prosseguimos com a conquista mais um pouco e fechamos o terceiro dia com 650 metros de via. Armamos nossas redes em um ótimo lugar numa matinha do colo e tivemos uma noite tranquila, com um céu muito estrelado fazendo abrilhantar a silhueta da montanha.

 Acampamento na parte alta. Foto Sandro Souza.

Na manhã do quarto e último dia os amigos de Afonso Claudio retornaram ao nosso acampamento juntamente com o Roberto Livre. E nos trouxeram comida, pois demos o mole de deixar na base!

Nosso plano era entrar na parte mais íngrime da parede e prosseguir a escalada até às 12h, pois teríamos muitos rapés para limpar a via tirando as cordas fixas. E assim seguimos conquistando e esticamos até onde o tempo permitiu. Deixamos 700 metros de via aberta até o ponto que acreditamos ser um pouco acima da metade da linha. Toda escalada em livre com grau médio em 4º e alguns trechos em 5º. E mais de 45 grampos batidos na munheca!

 Últimos metros para fechar a primeira investida. Foto Roberto Livre.

Um fato curioso para nós foi que, quando chegamos na Lajinha no primeiro dia e vimos sua grandiosidade, traçamos como meta conquistar até metade da parede, usufruindo da agilidade da furadeira. Com a falha deste acessório tecnológico achamos que o avanço não iria render muito, mas para nossa surpresa, usando de nossa força braçal avançamos até mais que a metade. Isso foi muito motivacional e superou nossas espectativas. Fruto disso esta altamente relacionado entre a boa energia, conhecimento e disposição entre os parceiros de cordada.

É aquilo: por vezes um grande projeto fica adormecido, aguardando o momento e pessoas certas para ser realizado…

Encerramento de mais um dia de escalada. Foto Oswaldo Baldin.
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