Conquista na Pedra do Lajão em Águia Branca, ES

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Pedra do Lajão avistada da estrada. Foto Oswaldo Baldin.
E lá estava ela! Sempre! O tempo todo! Durante todas  as idas e vindas de quem cruzava a estrada de terra que leva ao cartão postal de Águia Branca: os Três Pontões. Uma parede estética, longa, que a estrada apresentava de frente após virar uma curva. E possivelmente por isso, deve ter sido namorada por alguns escaladores/conquistadores… inclusive por nós três: Fred Knopp, André “Tesourinho” e eu, que há tempos  estávamos querendo abrir uma via nela.
Do lajão que deu nome à pedra, essa é a vista da parede.
Foto Andre Luiz dos Santos.
E foi chegada a hora, depois de muito tentar e finalmente conseguir conciliar a disponibilidade dos três indivíduos durante quatro dias, em dias de semana. E lá fomos nós!
Eu e Tesourinho fomos um dia antes. Chegamos lá tarde, e com isso não deu pra fazer muito no primeiro dia. Foi um final de tarde dedicado para escolher a melhor linha para a conquista, traçar a estratégia de aproximação, e abrir uma trilha que teve que ser à base do facão.

Particularmente prefiro me embrenhar no mato sem portar as lâminas de aço, pela locomoção ser bem mais rápida. Mas nesse caso além do mato estar bem fechado, julgamos mais sensato abrir uma picada de trilha para facilitar o acesso durante os dias seguintes e, para facilitar a localização do acesso para as futuras repetições.

A primeira proteção dos quase 500 metros de parede. 
Foto Andre Luiz dos Santos.
Para aliviar a fomiagem de fazer a via começar a surgir na parede, peguei a segurança do Tesourinho e parti para conquistar a primeira enfiada. Onde a rocha se apresentou mostrando-se agradável: aderente e não quebradiça. Empolgado, mas com os raios de luminosidade indo embora, continuei, conquistando a segunda enfiada, que apresentou uns lances mais técnicos, e essas passadas acabaram ficando mais protegidas. Bati a parada já no escuro, e rumamos de volta pra cidade.
… da janela do hotel em Águia Branca. Foto Oswaldo Baldin.
No dia seguinte o Fred chegou para se juntar na cordada, e passamos o dia todo no ato da conquista. Continuai no trampo, puxando a ponta da corda, e a cada enfiada finalizada, ao perguntá-los quem conquistaria a próxima, os caras só diziam que estavam bem acomodados ancorados, e querendo estar somente na onda de dar segurança, rs. Esses parceiro são fodas! 
Como eu estava pilhado, e afim de conquistar meeeeesmo – azar deles que não faziam questão -, a cada enfiada ia mais amarradão na vibe da conquista. E assim rolou de finalizar o dia com seis enfiadas concluídas. E baixamos da montanha na tranquilidade, ainda de dia.
Entardecer com o supremo Três Pontões.  
Foto Andre Luiz dos Santos.
Acordamos no terceiro dia com o esqueleto um tanto doido, então resolvemos tirar o dia para descanso. E como não poderia ser diferente, passamos algumas horas entre sobe e desce, e muitas curvas em estradas de terra procurando novas paredes virgens, vislumbrando linhas, e enxendo ainda mais a manga de possibilidades para se conquistar nesse município do noroeste capixaba.
Momento ‘bascana’, da escaladinha móvel da via!
Foto Andre Luiz dos Santos.

No quarto dia de empreitada começamos o dia de trabalho jumareando por 300 metros de cordas fixas. Sai para conquistar a sétima enfiada, e na parada dela foi que deu pra ver o restante da parede que faltava, e que revelou uma muralha seguida de um diedro que levava para a parte mais alta da montanha.
Reunidos na P7, e eis que surge o espírito de conquistador no Fred: ele pega a furadeira, ajeita os apatrechos em sua cadeirinha, e enfim parte para ir em busca do desconhecido. Uma hora algum membro da ‘dupla dos tesouros’ tinha que tomar uma iniciativa! rs. Então lá foi ele, esticou, e bateu a parada num platô muito bom, que era a base da parede da reta final da via.

Ultimo trecho, e a parte mais estética da escalada. 
Foto Andre Luiz dos Santos.
A parede a seguir era bem convidativa, de cor esbranquiçada, agarras visíveis, e pouca vegetação.

Como os parceiros não quiseram, parti – com muito prazer – para conquistar o trecho final da via. 

Como essa oitava enfiada se apresentou com uns lances mais técnicos (em ótimas agarras), fui protegendo num padrão E2, e desfrutando da enfiada. No final ela encontra com o início de um grande diedro (mas que não necessita de móvel nessa parte), e finaliza em seguida essa enfiada. Muito maneira mesmo!
E, cume! Foto Andre Luiz dos Santos.
Continuei tocando para a ultima enfiada, que saindo da parada rolou de fazer uma proteção com um camalot pequeno, depois entra em uma vegetação (se quiser rola proteção natural), e a via continua na rocha limpa logo na sequência, para a direita. Essa parte é linda, é onde se pega uma aresta que mostra realmente a grandiosidade da parede escalada. E com mais um pequeno trecho de vegetação, final de parede rochosa e, final de via!
Com uma caminhada de uns 15 minutos, passando à direita do grande blocão no topo da montanha nos levou ao cume, de onde se tem uma visão magnífica das montanhas de Águia Branca. E lá deixamos o livro de cume embaixo de um grande totem.
A “Pirambéu Espelhado”. Foto Oswaldo Baldin.

A via totalizou 485 metros, e por enquanto graduada em 4º V+ D2 E3. As enfiadas são protegidas com chapeletas, e as paradas duplas são em grampos. E em todas as enfiadas em que os lances são um pouco mais técnicos, estes estão bem protegidos. Para os poucos trechos em móvel, leve Camalots do nº 0.5 ao 4. É necessário duas cordas de 60 meros para possibilitar o rapel, e recomendável o uso de algumas costuras longas e fitas diversas.

Clique para ampliar o croqui.
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Esse nome um tanto exótico foi dado à via em decorrência de conversas com nosso amigo “Piu”, morador de Águia Branca e esposo da nossa grande parceira Vera Souza, que sempre nos ajuda muito por nossas estadias por lá.

Em conversas sobre pedras e escaladas com o Piu, ele disse que, quando a pedra é muito grande pode se dizer que é um “pirambéu”. E quando ela chega a ser bem inclinada, parece ser “espelhada”. Isso fluiu como poesia, rs. E resolvemos batizar a via como Pirambéu Espelhado, em homenagem ao nosso amigo figuraça Piu.
Conversamos com moradores no entorno para averiguar, e como todos afirmaram que a montanha não tinha nome, resolvemos batizá-la como Pedra do Lajão, pois o grande ponto de referência para ir ao encontro dela é uma laje de pedra enorme, ao lado esquerdo da estrada, e que forma uma área plana de rocha esbranquiçada, de onde se tem uma visão muito boa da parede e da linha da via. E desse lajão também dá pra curtir um belo visual de toda a cadeia montanhosa do vale.

Para chegar na via é só entrar à direita após passar a ponte na cidade de Águia Branca e seguir. Em um momento que aparecer uma bifurcação siga para a direita. A estrada vai te revelar essa parede de frente, não tem erro! O melhor acesso para a via é seguir mais um pouco e parar o carro perto do lajão descrito. Caminhe nele tendenciando para a esquerda, depois vá descendo o pasto até onde ele termina em uma matinha. A trilha inicia bem na ponta da direita da matinha, bem embaixo. 

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Pedra do Ney, Bico da Coruja e Pedra da Onça ao fundo.
Foto Andre Luiz dos Santos.

Valeu parceiros por mais essa grande conquista! E que ao final acabou sendo muito engrandecedora pra mim, possibilitando uma vivência continua e mais intensa ‘do ato’ de conquistar. Então de certa forma, obrigado por terem negado tanto a ponta da corda, seus sacanas! rsrs.

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