Ermanno Salvaterra: 17 anos de Patagonia

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Em entrevista para o periódico argentino Kóoch, Ermanno Salvaterra, um lendário montanhista que tem passado 17 dos últimos 26 anos escalando na Patagonia, conta como são estes momentos e porque escolheu esta região como sua fonte de inspiração.

“O que me impulsiona é a vontade de viver momentos únicos”
17 dos últimos 26 anos, Ermanno Salvaterra, passou escalando na Patagonia. Aos 50 anos afirma que ainda há muita coisa por fazer. Só tem que ter imaginação.
1 – O que tem a Patagonia que o atrai tanto?
TUDO. Me encanta o pampa, me encantam os glaciares, me encantam as montanhas. Gosto do mal tempo e gosto do vento que apesar de que molestam fazem viver emoções incríveis.
2 – O que encontra escalando aí que não encontra em outros lugares do mundo?
Que apesar de estarmos neste ano é como muitos anos antes. Uma vez que passa o acampamento base está tudo igual. Se te acontecer algo não tem ajuda de ninguém.
3 – Tendo ido ao Torre tantas vezes, com os riscos que isso implica, como faz para dominar o medo?
O medo é normal, natural. Não é o medo de uma queda, de um problema na parede, é o tipo de medo que dura mais tempo, o medo de que o clima não melhore, o medo de algo imprevisível que possa acontecer.
4 – Qual você acredita que seja o grande objetivo para cumprir na região? Me refiro a alguma parede ainda virgem, que gostaria de tentar. Voltaria à Sul do Torre?
Há muitas coisas que fazer ainda. Tem que ter imaginação, a qual poucos escaladores têm. Tem que tentar coisas que não esteja certo de conseguir. Não ter segurança de êxito é a coisa que mais gosto. A via mais difícil é sempre a próxima.]
5 – Lhe deu pena terminar de revelar o mistério de Maestri?
Em parte sim, mas eu gosto da verdade em tudo. Dizer as coisas como são.
6 – O que sente ao ver que as novas gerações de escaladores sobem o Fitz Roy ou o Torre em poucas horas? Não morre assim o mito, a lenda que tem o lugar?
Não, me encanta ver gente que sobe o Torre e o Fitz de maneira rápida. O que é uma lástima é que em geral se repetem as rotas clássicas. Há pouca imaginação. E quanto a velocidade, a evolução que sucede agora na Patagônia também aconteceu nos Alpes um tempo atrás.
7 – Acredita que o clima na região está mudando? As últimas temporadas houve grandes períodos de bom tempo, coisa que antes era inusual.
Não sei, eu só posso falar dos últimos 23 anos, mas se parece estar mudando, da mesma maneira que muda aqui na Itália, nos Alpes.
8 – Que características tem o “escalador patagónico”? Me refiro a se quem deseje escalar com sucesso na Patagonia tem que possuir alguma qualidade distinta de outros escaladores de outras regiões.
Creio que a coisa mais importante para um escalador na Patagonia é a cabeça. Ter vontade de fazer muitas tentativas, não ter medo de ir e voltar várias vezes pelo glaciar, não ter medo da desistência e voltar a tentá-lo outra vez.
9 – Como se prepara mentalmente para encarar uma via como a Arca de los Vientos? Tem algum ritual que cumpre a cada vez que vai ao lugar?
Não, não tenho nenhum ritual. A única coisa que me faz falta é ter vontade de tentar inclusive quando sei que tenho poucas possibilidades de completar meu objetivo.
10 – Qual é o motor que o impulsiona a abrir grandes rotas? A imaginação, a vontade de romper os limites um pouco mais?
O que me impulsiona é a vontade de viver momentos únicos, momentos próprios, momentos especiais com meus companheiros, recordações que o tempo não poderá apagar, como uma grande história com a mulher mais amada.
Fonte: Revista Kóoch – Argentina (Reportagem de Santiago Bluguermann)

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