Escalando no Litoral Capixaba

Tempo de leitura: 7 minutos

A matéria abaixo foi publicada na centésima edição do Mountain Voices. A versão on line da edição já esta no ar, acesse: http://www.mountainvoices.com.br/

MONTANHA ou MAR,

ou MAR e MONTANHA?

Por: Oswaldo Cruz ‘Baldin’
O Espírito Santo tem a fama de ser um estado que agrega lado a lado o mar e a montanha. Com uma hora de estrada é possível sair da parte litorânea e estar a 1.000 metros de altitude em uma região serrana de rara beleza onde fica localizada a Pedra Azul.
Baldin na ‘Kataclisma 8c’, Morro do Moreno. Foto Angelo de Paula

Sabemos que escalador, mesmo falando que vai passar o verão em alguma praia, leva o equipamento de escalada junto consigo, e por algumas vezes até escondido dentro bagagem e longe da visão de suas ‘companhias’, sempre na esperança de dar uma fugida para matar a sede de escalada em algum bloco a beira mar. E se seu destino para o verão for o litoral capixaba, aí você pode trazer suas tralhas pois com certeza terá ótimas possibilidades de mesclar momentos de praia com escalada, tudo muito próximo, compreendido na região que forma a Grande Vitória, composta pelos municípios de Vila Velha, Cariacica, Viana, Serra, Guarapari, e a capital Vitória.

Points

A região da Grande Vitória se tornou um grande centro das chamadas escaladas urbanas, por possuir diversas possibilidades literalmente encravadas dentro da região metropolitana. O principal setor de escaladas da Grande Vitória é o Morro do Moreno em Vila Velha, município unido a Vitória pela Terceira Ponte, de onde já se tem uma bela visão deste complexo montanhoso. Uma área verde encravada dentro da cidade com fácil acesso, a cinco minutos de caminhada pra quem está na Praia da Costa. Possui 40 vias no estilo esportivo com boa proteção em grampos P e paradas duplas. A fama do Moreno é ter vias com verdadeiros segredinhos, aquela situação de que muitos crux só se faz “daquele jeito”, com isso a grande maioria são escaladas técnicas em parede vertical, entre 10 e 15 metros.

Visto ao longe, este complexo lembra o perfil de uma macaca deitada. Devido à aparência com o primata, os escaladores locais o dividiram em três setores: Testa, Boca e Barriga da Macaca. Foi na testa que foram abertas as primeiras vias, como a Maria Mole, 5º e Sargento, 4º. Em uma falésia vertical de cor esbranquiçada fica a Boca da Macaca, setor este que apresenta ótimas opções, como as vias Noventa Graus, 6º a primeira aberta no setor, Conseqüência de Uma Seqüência 7b, considerada uma linha com bela movimentação, e três oitavos: Linha direta, 8a, Hemoglobina, 8a/b e Kataclisma, 8c. O melhor horário para escalar neste setor é pala manhã, quando está em sombra. Quando o sol chegar, é momento de dar um pulo em O Coisa, 7b, localizada em uma parede atrás da Boca, e com um belo visual. O setor da Barriga é o que poderíamos chamar de “ império do 7º grau”. A maioria das vias são nesta linha de dificuldade, como a clássica As aparências enganam, 7a – esta via só está encadenada após dominar um platô acima da parada, movimento este que é o crux. Na altura do crux da Aparências, uma linha horizontal de cristal corta quase toda a parede, sendo responsável pelo crux das outras vias também, como a Nove meses, 7b, Essa fada, 7b e Matrix, 8b/c com 27 metros de extensão. E vale muito a pena entrar na bela linha em móvel chamada Demolidorá 6º, um diedro de 25 metros com colocações perfeitas. Na trilha de acesso ao setor da Barriga existem vários blocos espalhados pela mata com bons boulders como Hereditário, Caramujo Sonolento e Teto lá de casa.

Seguindo de Vitória pela BR 101 norte, com 30 minutos chega-se ao município da Serra, que tem como principais praias Jacaraípe e Manguinhos. É no município que está a maior formação da Grande Vitória, o Mestre Álvaro com 833 metros de altitude. O local possui diversas trilhas… e lógico, escalada! O forte do Mestre Álvaro é o potencial para boulder, principalmente em um setor descoberto recentemente que já abriga bons problemas: Do c… (V8), Borda de piscina (V7), Cabecinha (V6) e Agarra em casca de ovo (V5). Existe uma quantidade enorme de blocos espalhados pelo pasto, e ao alto em uma encosta está o maior bloco com cerca de 20 metros, com cor alaranjada de fácil localização. Possui três vias esportivas em parede vertical: Boi Ralado, Vaca Louca e Febre Aftosa, entre 7a e 7c.

Ao lado oposto do Mestre Álvaro tomando Vitória como referência e seguindo pela Rodovia do Contorno até Cariacica, chega-se ao Monte Mochuara, um enorme paredão com tons entre preto e branco com 724 metros de altitude, sendo uma área de preservação ambiental. Em um grande bloco na base da montanha, logo no início da trilha que leva ao cume, estão seis vias. As mais solicitadas são: Até mamãe faz 6º+, Os Micuins contra atacam, 5º+ e Sovaco da Cobra, 7a. Como o bloco está dentro da mata, qualquer horário tem sombra.
É no município de Viana que fica localizado o futuro mais promissor no que diz respeito a potencialidades de vias da região da Grande Vitória. O local é bem jovem, descoberto a dois anos, e já se consolidou como uma área de ótima qualidade de escalada reunindo distintas paredes e com isso foi batizado de Complexo de Viana. O setor principal é a Falésia do Capeta, com as dimensões de 25 metros de altura e 200 metros de largura. Uma parede realmente atraente e linhas verticais de resistência, com muitos batentes e agarras em um granito de enorme aderência. Todas as vias estão equipadas com grampos P e paradas duplas, que consomem entre 8 a 13 costuras. A falésia conta com dez vias divididas em três setores. No primeiro existe a Marolive, 7b/c e mais quatro projetos. O segundo é o setor principal, tendo a clássica Twist Carpado, 7b, Priapismo 8a e o projeto Tiru Liru. O terceiro setor possui as vias mais tranqüilas da falésia, variando entre 5º e 6º, como a Mi Apendi e Bera di Berma. Um grande ponto a favor do Capeta é a possibilidade de se escalar no período da tarde, onde a sombra é total. As margens do riacho que corta este setor estão espalhados vários blocos que geraram a abertura de 20 boulders até o momento. Em um morro de frente para a falésia, fica uma a Pedra da Irmandade, que na sua maior extensão deve ter cerca de 100 metros. Recentemente foi conquistado nela a via Risadinha, 4º V, uma escalada em móvel de 60 metros sem nenhuma proteção fixa, sendo possível descer do topo caminhando.

Um setor que vem ganhando investimento no momento é uma falésia localizada no estacionamento. Deste local que se deixa o carro, é só subir o pasto que em 10 minutos já se chega na base da falésia, que conta até o momento com três vias chapeletadas: Porkildis, 4º, Aprendiz de Lenhador,8b/c(? ) ,em uma aresta com 25 metros, e outra cotada em 7c. E mais duas vias em móvel: Memória de gaúcho ,6º+ e uma bela fenda em diagonal de 35 metros, a Morcegos me Mordam, 7b/c(?). Um pouco mais adiante (3 km), seguindo pela estrada principal fica o Pesque Pague do Neném, uma outra área que completa o Complexo de Viana, com uma falésia com sete vias e boulders na base.

Naoki Arima no ‘Cirurgia Moral V8/9’, Vitória. Foto Caio ‘Afeto’

E se o assunto até o momento são escaladas na região da Grande Vitória, a capital do ES entra no circuito com um point que lhe dá grande prestígio: a escalada noturna. A Pedra da Ilha do Boi possibilita escalada a noite devido à iluminação de refletores voltados para a rocha. E como se isso já não bastasse, é uma área de acesso muito fácil (até em excesso), quase possibilitando dar segurança de dentro de um carro – a pedra fica na calçada, a base é gramada, o local é seguro e cercado pelas praias da Curva da Jurema e Ilha do Boi, as principais de Vitória juntamente com Camburi. As principais vias são Xixi, 7c com uma saída boulderística, e Machos, 6º+ técnica em regletes. O local possui outras vias em top rope e um bloco com o famoso boulder Cirurgia Moral ,V8 com movimentos de tapa em abaulados, encaixe de calcanhar e um domínio um tanto complexo… a rocha é bem abrasiva, este é o detalhe.
Conhecida como Cidade Saúde pelas propriedades medicinais de suas areias monazíticas, Guarapari é um dos balneários mais frequentados do litoral capixaba, principalmente pela Praia do Morro. Em 40 minutos seguindo pela Rodovia do Sol já é possível estar em Vitória, passando antes por dois points. A Praia dos Padres em Meaípe abriga alguns blocos a beira mar, com boas linhas de boulder. Mais a frente antes do pedágio, entrando a esquerda por uma estrada de terra fica a via Lídio Alvarenga, 4º V D1 E2, 170 metros, localizada na Laje das Pedras, parede que possui também a Caminho dos Ventos, 5º VIIa A1 D1 E1, 100 metros e que necessita de equipo móvel.
Saindo de Guarapari pelo trevo da BR 101, e seguindo a direita no sentido Vitória, com apenas 10 minutos já se tem ótima escalada tradicional no distrito de Iguape. A via Diamante de Mendigo, 4º V segue por uma torre de granito com uma linha de 220 metros, e uma grande passagem horizontal de 50 metros na metade da via. Do cume é possível descer pela encosta caminhando. Deste mesmo trevo, porém no sentido oposto, seguindo ao sul, com 25 km chega-se a Alfredo Chaves, município que reúne várias práticas de esportes de aventura no estado, tendo como forte o vôo livre. Ao lado da rampa de vôo fica a Cachoeira Alta com 110 metros, onde do lado esquerdo à queda d’água sobe a via Sombra e Água Fresca, 3º IV+. Outras áreas dentro do município possibilitam escaladas entre esportivas e boulders.

Venha conhecer

Usufruindo do verão capixaba tendo lado a lado o frescor da água do mar com o suor do crux da via e visitando estes points citados, você terá experimentado cerca de 5% do potencial das escaladas do Espírito Santo. Diversos e imensos monolitos rochosos podem ser vistos às margens da BR 101 e BR 262 que cortam o estado, e muito mais potencial pelo interior… mas isso é uma outra história, para quando voltar as terras capixabas.

+ infos: baldin23@yahoo.com.br

One Response to “Escalando no Litoral Capixaba

  • e ai cara.,
    sabe me dizer se em guarapari tem algum campo bouler?
    vlw

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *