Nova via na Pedra da Gávea – RJ
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Por Antonio Paulo Faria
SENSAÇÃO DE ÊXTASE, esta é a nova via da Pedra da Gávea (845m) e o nome diz tudo sobre a linha, é uma sensação de êxtase. É uma das vias mais bonitas que abri. Ela tem aproximadamente 200 m de extensão e lembra a Caipirinha (Pico da Tijuca), a diferença é que ela é 4 vezes maior e possui um teto fantástico e fácil, de quase 2 m. A graduação pode ser algo entre 5º VI+ e 6º VIIa, vai depender de quem graduar. Ela é protegida por mais de 60 grampos, ou seja, é bem protegida no padrão E2. Os lances mais difíceis podem ser feitos inclusive em AO. Para repetí-la, basta uma corda de 50 ou 60 m e 14 costuras, sendo que umas 3 devem ser longas.
A trilha de acesso começa logo à direita da rampa de vôo livre, na Pedra Bonita. São apenas 15 minutos de caminhada, e é descida!! Assim até os urcanistas! Ao chegar na parede, basta descer para a esquerda, uns 100 m, acompanhando a rocha, a partir da base da Chaminé Elly (acesso para o topo da Gávea). A trilha é marcada por montinhos de pedra. A linha da escalada é quase reta, não é preciso croqui, cruza o Bip Bip e passa à esquerda da Pepita de Pirita, mas a base situa-se 70 metros abaixo dessas vias. A descida pode ser feita por rapel (paradas duplas para cordas de 60 m), ou por caminhada. Como fica situada na face norte da Pedra da Gávea, se for um dia quente, é melhor evitar o horário entre 11 e 14 h.
Foram seis investidas durante a conquista. Na segunda, fui auxiliado pela Ljiljana Grmoljez, da Lituânia! Ela veio ao Brasil para ser batizada em capoeira!! Ela queria escalar e ver a Mata Atlântica, então a levei para me ajudar. Ela viu um monte de jaqueiras, bananeiras e mangueiras, e achava que era a tal da Mata Atlântica, como muitos aqui também pensam. Para ela, qualquer coisa era Mata Atlântica, até capim. Ljiljana é uma maravilha da natureza. Você consegue falar este nome? Nem eu! Eu a chamava de Jana. Não estou zoando não, o Marcelo Ramos (Equinox) é testemunha. Muitos não acreditaram na história da finlandesa que me ajudou a conquistar no Pico do Cristal (MG)… Alguns aqui devem lembrar dessa história , “A deusa que caiu do céu”
Na segunda e terceira investidas, quem me ajudou foi Szvinyarovich Grljevic, da Eslovênia! Consegue falar este nome? Nem eu! Também é doido das idéias, mas não pense você que é um daqueles escaladores eslovenos suicidas, apesar de escalar bem. Na terceira investida, como ele sabia que ia ficar parado um tempão num platô me dando segurança, com um tremendo visual do litoral carioca, o danado levou duas garrafinhas de 100 ml de uma bebida com teor alcólico de 52%, típica do país dele. Quando retornei ao platô, o sujeito estava rindo à toa, e misturava inglês com algumas poucas palavras em português que aprendeu na Bahia! Na base, ele tirou outra garrafinha daquela bebida da mochila… Nós chegamos à rampa de vôo livre bêbados. Eu ria descontroladamente quando ele falava as poucas palavras de português que conhecia, mas com sotaque baiano. Mais engraçado ainda era ele tentando falar “Ó o auê aí ô”, e por causa disso, acabei tropeçando várias vezes na trilha. Conheci este maluco na Áustria, no ano passado. Chegando ao Brasil, ele foi primeiro a Porto Seguro e ficou apaixonado pelas baianas. Quer ir morar lá de qualquer jeito, mas lá ele vai ter que escalar coqueiros. Na primeira, quinta e sexta investidas, fui sozinho. Acabou rendendo mais porque não precisava ficar cuidando de gringos doidos!
O nome da via era outro, mais extenso, ia ser “Beng Beng Crac Ai Peng Peng PQP!”. Vou explicar.
Fui conquistar com o esloveno e levei duas marretas, uma era novinha. Depois de abrir nova enfiada de corda, tentei melhorar um grampo que ficou sobrando para fora, que o esloveno colocou na investida anterior. O danado entrou atochado, mas apenas 1,5 cm. Preparei a marreta “zero bala” e enfiei a porrada no grampo teimoso, que não entrou um micron sequer. O cabo da marreta quebrou na segunda batida, ela caiu sobre o meu joelho direito (que dor) e depois quicou duas vezes na pedra antes de desaparecer, e PQP de boca cheia. Muito irritado, zuni o pedaço de cabo que sobrou, caindo sobre a floresta. Depois de fazer três descidas de rapel, arrumamos a tralha toda e entramos na trilha com mochilas pesadas. Eu estava pré-bêbado e ele, tri. Mas não é que 30 metros adiante não vi e pisei sobre o cabo roliço quebrado que eu havia zunido! E vapt! Levei um tombo desconcertante, daqueles pra te deixar desmoralizado, e PQP de novo. O cabo foi cair justamente na trilha!
A via é muito legal, vale à pena. O visual é simplesmente deslumbrante.