Patagônia 2008 – Agulha Poincenot
Por Edemilson Padilha
Dois dias depois da aventura na Agulha Rafael, Edemilson Padilha e Valdesir Machado pisam o topo da belíssima Agulha Poincenot pela sua face oeste, e logo, em meio fortes ventos e nuvens carregadas, rapelam para o outro lado, realizando assim esta impressionante travessia.
Agulha Poincenot (Face Oeste)
Os rapéis, sempre os rapéis que nos fazem sentir mais medo. Na Patagônia sempre há complicações: paradas pouco confiáveis, pedras soltas, cordas presas na fendas,…E desta vez tínhamos um agravante: uma tormenta se formando no oeste. Já não víamos o Cerro Torre, envolto em nuvens pesadas. Nossa única alternativa era conseguir encontrar o próximo rapel, porém, depois de mover-me de um lado para outro, 400 metros abaixo do cume, tomei a decisão de continuar descendo em uma linha reta para baixo. Dois rapeis depois, percebo que estamos indo diretamente para a face sul, impossível de rapelar pela negatividade. Não conseguíamos tirar os olhos das nuvens que se acercavam, prontas para engolir a Agulha Poincenot; nossos nervos a ponto de explodir e o instinto de sobrevivência trabalhando a 100%!
Dois dias antes havíamos escalado a Agulha Rafael Juarez, e enquanto descíamos olhávamos para a imensa parede sudoeste, onde está localizada a via Fonrouge, porém não conseguimos identificar seu traçado. Chegamos ao Bivaque Polaco, nosso Acampamento Base Avançado, quando havia acabado de anoitecer. Jantamos e dormimos até a metade do dia seguinte, que confirmava o impressionante prognóstico: mais um dia de tempo bom; já era dia 24 de janeiro e desde que chegáramos, no dia 17, o tempo se apresentava favorável. Dia de descanso do corpo significa dia de “queimar” a cabeça. Passaram mil coisas por nossas mentes naquelas sofridas horas de espera que antecederam a decisão de escalarmos a face oeste da Poincenot, como a aproximação perigosa e noturna, um serac (imenso bloco de gelo) pendendo quase na base da via de 800 metros e pouco repetida, e claro, os rapéis pela face leste, que não conhecíamos. Pelo prognóstico teríamos somente o dia seguinte de bom tempo, o que implicaria aproximação noturna, cume à tarde (de preferência sem perder-se na via) e rapéis noturnos…
No meio daquele mar de gelo o que eu mais queria era encontrar dois escaladores conhecidos que estivessem vindo em sentido oposto e que nos oferecessem seus sacos de dormir para que pudéssemos descansar antes de voltar para El Chaltén, e foi exatamente isto que aconteceu: encontramos Kike e Martim a 20 minutos das covas de gelo e nos ofereceram seus sacos de dormir em agradecimento às informações que demos, pois tentariam a via pela qual havíamos descido. Isto não foi tão surreal quanto chegar em El Chaltén e nos avisarem que a janela de bom tempo prosseguiria! E o Gabi (nosso companheiro de escalada argentino) com o pé quebrado, pescando e passeando por El Chaltén todos aqueles dias de céu azul, que azar! Mas a vida é assim, cheia de surpresas…
Escaladores: Edemilson Padilha e Valdesir Machado
Patrocínio: Snake, Conquista, Território
Fonte: http://www.conquistamontanhismo.com.br/aventure_se/montanhas.php?id_not=98