Rolando Garibotti e Colin Haley completam travessia inédita no Grupo do Torre

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Por Filippo Croso

Introdução

A Travessia do Torre escala de norte a sul o maçico, passando respectivamente pela Aguja Standhardt, Punta Herron, Torre Egger e Cerro Torre, com aproximadamente 2200 metros de ganho vertical, um ícone patagônico que ainda não havia sido escalado até o dia 24 de janeiro de 2008, quando Rolando Garibotti e Colin Haley realizaram a ascensão.

A travessia foi idealizada pelos italianos Andrea Sarchi, Maurizio Giarolli, Elio Orlandi e Ermanno Salvaterra, que a tentaram diversas vezes no final dos anos 80 e começo dos anos 90. Em 1991 Salvaterra, junto com Adriano Cavallaro e Ferruccio Vidi, conseguiram chegar até a Punta Herron, fazendo provavelmente a primeira ascensão do pico, pela estética Spigolo dei Bimbi na aresta norte.
No início de 2005, o alemão Thomas Huber, junto do suiço Andi Schnarf, completaram a travessia Standhardt – Egger. Inicialmente com o plano de escalar apenas o Standhardt, pela via Festerville, decidiram no cume prosseguir até o Egger, e em estilo rápido e leve completaram este trecho da travessia em 38 horas ida e volta, descendo pela via Titanic na aresta leste da Torre Egger.No final de 2005, Salvaterra, junto com Alessandro Beltrami e Rolando Garibotti, resolveram a peça que faltava no quebra-cabeça quando escalaram o Cerro Torre pelo norte por uma nova via, El Arca de los Vientos. Com uma rota finalmente estabelecida a partir do Col da Conquista até o cume da montanha, Salvaterra retornou em 2006 com Beltrami e Garibotti para tentar novamente a travessia, mas o mal tempo não permitiu que fossem além do Standhardt. Sem se deixar abalar, Salvaterra voltou no final de 2007 com Beltrami, Mirko Masse e Fabio Salvodei. Dessa vez escalaram o Standhardt pela via do próprio Salvaterra, Otra Vez, e seguiram em frente escalando Herron e Egger. Desceram até o Col da Conquista e avançaram uma enfiada no Torre antes de recuar. Naquela mesma janela de bom tempo, Garibotti, junto com Hans Johnstone, iniciaram a travessia pela via Festerville no Standhardt. Escalaram Herron e Egger, e foram além do Col da Conquista, completando boa parte da via El Arca no Torre antes de serem barrados por um cogumelo de gelo.
Garibotti, tendo agora feito todas as seções da travessia, decidiu ficar em Chaltén até o fim da temporada para mais uma tentativa. Se juntou a vários parceiros de corda incluindo Bruce Miller e Bean Bowers, mas foi quando se juntou a Colin Haley que outra janela de bom tempo se abriu. Haley, que havia trancado a faculdade por um semestre para ficar mais tempo na Patagônia, havia conseguido, com Kelly Cordes no ano anterior, fazer uma junção muito buscada no Torre, da via A la Recherch du Temps Perdu com a parte superior da Via da Face Oeste.
A Travessia

No meio de janeiro de 2008, Alex e Thomas Huber, juntos com o suiço Stephan Siegrist, chegaram em Chaltén, também com o plano de fazer a travessia. No dia 21 de janeiro, em condições de tempo menos que favoráveis, Haley e Garibotti iniciaram a travessia enquanto que os Hubers e Siegrist decidiram esperar devido as condições climáticas.

Haley e Garibotti escalaram a Standhardt pela via Exocet, alcançando o cume um pouco depois do meio dia, depois rapelaram até o Col dei Sogni, entre a Standhardt e a Herron. Escalando a Herron pela Spigolo dei Bimbi encontraram a rocha coberta de gelo esfarelento e foram forçados a escalar variantes nas enfiadas 2, 3 e 4. Atrasados devido à condição da neve e o vento, bivacaram abaixo dos cogumelos de gelo da Herron. Continuaram no dia seguinte, em tempo perfeito, mas com um cansaço incomum, provavelmente devido a uma leve intoxicação de monóxido de carbono acumulado dentro de seus sacos de bivaque. Chegaram ao cume da Herron, rapelaram até o Col de Lux e escalaram a Torre Egger pela via Huber-Schnarf 2005, também escalando variantes na aresta norte, chegando finalmente ao Cerro Torre.
O bom tempo trouxe também temperaturas altas incomuns para a região, fazendo com que ao chegar ao Col da Conquista buscassem abrigo do gelo que caia neles, parando para bivacar por volta das 5 da tarde embaixo de uma pedra. Continuando no dia seguinte, encontraram bastante dificuldade na porção superior da Arca, com muito gelo nas fendas e cogumelos de gelo. Às 5 da tarde chegaram ao topo da face norte do Torre, onde a via junta com as duas últimas enfiadas da via Ferrari na aresta oeste. Escalaram duas enfiadas por dentro de túneis naturais de gelo para alcançar a última e temida enfiada, conhecida por ter barrado muitos escaladores. Haley e Garibotti, ambos já tendo guiado essa enfiada antes, a encontraram em condições mais difíceis que anteriormente. Essa última parte é escalada cavando com dificuldade trincheiras verticais através do gelo esfarelento, e já que nenhum outro time havia passado por lá na temporada, os 50 metros finais de gelo não protegível pareceram tenebrosos. Haley tentou no começo da noite, cavando uma canaleta de 10 metros em uma hora, antes de encerrar o dia. Embaixo de uma lua cheia bivacaram à uma enfiada do cume do Cerro Torre.”Descansados” após uma longa noite tremendo de frio, Haley continuou a enfiada, cavando um túnel do topo da canaleta que havia aberto no dia anterior. Levou 3 horas cavando um túnel de 20 metros dentro do cogumelo, saindo para encontrar outro túnel formado naturalmente. Ao meio dia do dia 24 de janeiro alcançaram o cume do Cerro Torre, completando a primeira ascensão da tão sonhada Travessia do Torre.
Após um breve descanso desceram pela Via do Compressor, na aresta sudeste, chegando ao glaciar no começo da noite.Buscando eficiência máxima, os dois dividiram as guiadas baseados nas suas diferentes habilidades, Haley guiando as enfiadas de gelo e Garibotti as de rocha. O segundo jumareava com a mochila pesada, e o primeiro guiava com uma mochila leve, ou as vezes sem mochila (depois rebocando-a) dependendo do terreno. Devido as difíceis condições encontradas, escalaram mais devagar do que esperavam e chegaram ao cume do Torre sem nenhuma comida. Em condições de clima e rocha ideais, e com a enfiada final já escavada, acreditam que a travessia possa ser realizada significativamente mais rápido.
Embora ter êxito na travessia seja bastante difícil, devido à estratégia e ao clima, Garibotti comenta que nenhum trecho envolve dificuldade técnica extrema, nada acima de VII grau e A1. Excluindo a última enfiada do Cerro Torre, nenhuma guiada é extremamente exposta. Garibotti acredita que o futuro da escalada na Patagônia não está em junções ou travessias, mas talvez em repetições em estilo alpino de vias imensas dos anos 80, como a de Silvo Karo e Janez Jeglic na face sul do Torre, ou a Devil’s Directissima na face leste, também dos dois eslovenos.
Garibotti manda “um grande obrigado a “il Maestro”, Ermanno Salvaterra, pela idéia, pela inspiração, e por continuar, 12 anos depois, a mostrar o caminho…”

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