Conquista na Camela em Águia Branca

Tempo de leitura: 6 minutos

A estética Pedra Camela, ES. Foto André Luiz Santos.
Hoje são 18 opções de vias em Águia Branca, a maioria acima dos 300 metros de extensão, que se espalham pelo vasto relevo rochoso deste município localizado no noroeste do Estado. E junto com o seu município vizinho Pancas, se tornam a  a maior concentração de grandes vias no Espírito Santo, ligados rochoso Monumento Natural dos Pontões Capixaba. Um destino à cada dia mais consolidado nas escaladas tradicionais.
Fred iniciando a quarta enfiada. Foto André Luiz Santos.
Sempre, em cada visita que fazemos nestes municípios, ao terminar uma escalada ou nova via, voltamos pra casa com um monte de novas opções ‘na manga’ de linhas para conquistar nas muitas paredes que nos deparamos pelo caminho. E com isso nossas mangas vão ficando cheias, felizmente, pois não se esgotam as novas possibilidades de rochas virgens para serem desfrutadas.

E numa dessas idas e vindas em Águia Branca, deixo para o amigo André descrever abaixo como é que surgiu e foi acontecendo a conquista da montanha que é título deste post.

Pedra Camela à esquerda. Foto André Luiz Santos.

Amostra do relevo de Águia Branca. Foto André Luiz Santos.
 
“Após a conquista da via ‘Olhar do Junior’ na Pedra Bonita (juntamente com o Oswaldo Baldin e o Fábio Gerra), eu (André) e Fred decidimos sair à procura de uma nova montanha para iniciar outra conquista nos arredores. E encontramos justamente no triângulo de divisas entre Águia Branca, Nova venécia e São Gabriel da Palha a Pedra Camela. Fato ocorrido em 2011, ano em que eu tornara pai há poucos meses, e Fred estava com sua esposa grávida, ambos marinheiros de primeira viajem na paternidade, e detalhe: de duas meninas. Dai entramos em comum acordo de que iríamos conquistar essa via em homenagem a nossas filhas.
A primeira investida foi em 2011 e rendeu duas enfiadas conquistadas utilizando batedor. Depois em 2012 retornamos para estrear a furadeira, fazendo render mais duas enfiadas. 
Em 2013 eu e Fred conseguimos programar nossas férias juntos, com plano de finalizar duas conquistas, ambas em Águia Branca. E em 30 dias de férias rendeu apenas uma enfiada (rsrsrsrs). A alta positividade do meu parceiro contribuiu para essa incrível progressão!
No Carnaval de 2014 surgiu uma boa oportunidade de dias disponíveis. E com a ideia de fazer uma boa ação de livrar dois jovens do álcool nessa data específica, então intimei esses dois brothers (Baldin e Gilson) para formar a trip e dar um suporte nessa quarta investida na Camela, em busca do cume.”
 
André estreando sua furadeira. Foto Frederico Knopp.

Pois é! Com esse convite eu e o Gilson entramos na barca para conhecer a Camela, objetivando todos a finalização da via. Juntamos com Fred e André em Ibiraçú e pegamos o asfalto rumo à montanha, chegando na base dela já quase escurecendo. Mas nos últimos raios de luminosidade ainda foi possível perceber que a linha que a dupla pegou era muito estética e bonita, e isso motivou ainda mais!

Símbolo de Águia Branca, os Três Pontões. Foto Oswaldo Baldin.
Acertamos de dormir em uma pedreira, pois ficaria perto e facilitaria a aproximação. Infelizmente esse é o ponto negativo das imediações da pedra: um cenário de destruição ocasionado por uma pedreira que está em atividade próximo à Camela. E este não é um caso isolado, pois dezenas de outras pedreiras estão espalhadas pelo norte e noroeste do ES, contrastando a beleza de monumentos naturais com o “avanço” (?) desenfreado e horrível das pedreiras, detonando as paisagens capixabas.
Mas voltando… dessa pedreira é só subir um pasto que se chega na base da pedra com apenas uns 10 minutos de caminhada, tornando essa, uma escalada de grande facilidade de acesso.

.

Baldin continuando a quinta enfiada. Foto André Luiz Santos.
Esquematizamos de revezar as guiadas das quatro primeiras enfiadas já conquistadas, e assim fomos. Quando chegamos na P4 o André me deu as coordenadas sobre a continuidade da via e me preparei para guiar a quinta e finalizar a conquista dessa enfiada que ele quase havia finalizado na investida anterior. E no momento de partir eis que o tempo deu uma virada e a chuva começou a respingar. Neste momento o Fred, com o seu já clássico pessimismo tenta nos adrenar, mas como eram 3 contra um, o otimismo ganhou! A nuvem aguada se foi e eu parti para repetir a enfiada, onde em alguns trechos o André havia conquistado com alguns furinhos de cliff. Mas repetindo deu pra escalar toda em livre, passando por um crux bem legal. Fui no limite que ele havia ido na investida anterior e a finalizei batendo a parada.


Camela à esquerda, e Invejada à direita. Foto André Luiz Santos.

Com todos reunidos na na P5, ao observar o trajeto acima é que minha ficha caiu, do porque a dupla (ou casal? rs) André e o Fred teria colocado tanta pilha convidando para ir nessa conquista: à frente estava o trecho que viria a ser o crux da via, rsrs. A parede ganhou um pouco mais de inclinação, e era ausente de agarras para ficar momentaneamente para instalar os grampos. Querendo evitar de fazer furos de cliff me utilizei de ficar ‘ancorado’ momentaneamente em pequenas bromélias para furar, e levitando nelas rolou de proteger esse trecho (6º). Transpus um peitoral, a pedra se deitou novamente, numa escalada mais fácil dei um esticão finalizando a P6.
 A distância entre a Camela e os Três Pontões. Foto André Luiz.
A vegetação do cume já estava bem à vista. Então o André deu uma pilhada no Fred, que pegou a ponta da corda e esticou até o final por um trecho bem tranquilo, batendo apenas um grampo no meio de 55 metros. E lá fomos nos reunir nós ao encontro do final da via, e para a sombra de coqueiros e árvores que nos recepcionaram ao final desta escalada.
Eu e o Gilson sabíamos sobre a história narrada acima pelo André, que essa conquista era para homenagear sua Alice e a filha do Fred, a Laura. Mas eis que o André saca o livro de cume e nos mostra a foto de ambas princesas nas folhas do caderninho, e nos diz que sugeriria o nome da via de “Anjos”. Foi um momento onde todos, com emoção, concordaram plenamente com o nome e assim a batizamos. E lá no cume da Camela encontra-se p livro de cume, que guarda a foto desses dois anjos, o relato desses quatro escaladores, e aguarda o registro de futuras repetições.
 

 Via Anjos finalizada, na parceria! Foto André Luiz Santos.

Valeu parceiros Fred e André por mais uma grande vivências juntos, e pela boa vibe com o carioca Gilson, com quem pude dividir a cordada pela primeira vez.

 
A Anjos. Foto André Luiz Santos.
A via segue pela linha mais natural e óbvia da montanha. Uma escalada toda protegida em grampos P de 1/2 e com paradas duplas. São necessárias 12 costuras (algumas longas para diminuir atrito) e corda de 60 metros (duas para possibilitar o rapel). Certamente essa via agrega como uma das mais acessíveis para escalar em Águia Branca, com aproximação super fácil, e por ser uma linha bonita que pode ser escalada super leve. Todos “trechos crux’s” de cada enfiada estão muito bem protegidos, tornando essa via tranquila para ser escalada, na super curtição.

Acesso: Na saída de Águia Branca (sentido Vitória x Barra de São Francisco) passar o posto e sair do asfalto entrando à direita, por uma estrada de terra. O sentido é sempre objetivando o visível Três Pontões. Após passar por ele entrar numa bifurcação à esquerda (neste momento são 13km percorridos a partir da cidade). Depois na próxima à direita, e na outra à esquerda (onde existe uma pequena igreja). Seguir até a casa da Dona Marina, onde se deve avisar sobre sua visita e intenções. Todo esses trajeto por estrada de terra à partir da cidade tem 20 km.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *