Novo Normal: Mais uma tradicional em Vitória

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Equipamentos de segurança da atualidade.

O jejum das escaladas em meio a pandemia foi longo, estive completamente afastado das montanhas por 8 meses, seguindo à risca a quarentena. Infelizmente também paralisei minhas atividades profissionais, sem ministrar cursos e escaladas guiadas, o que foi uma situação bastante complexa.

Mas em Dezembro de 2020, Ghiany e eu resolvemos tentar desenferrujar as articulações e chamamos o Sandro para uma escalada. Nos adaptando a uma nova, porém triste realidade, de irmos para montanha munidos de máscara e álcool, para o novo/estranho estilo de convívio social.

O Morro do Vigia possibilita escaladas tradicionais em meio a área urbana de Vitória. Foto Oswaldo Baldin.

A proposta de conquista

Há mais de duas décadas sou frequentador do paredão que faz o plano de fundo do Parque Municipal Gruta da Onça, o Morro do Vigia, localizado bem no Centro de Vitória.

As três vias que lá existiam tem de 100 à 175 metros e contam com lances em aderência, agarras e cristais. Uma miscelânea interessante, que resulta numa boa opção para escaladas na pegada tradicional em meio a cidade. E com um ótimo bônus: sombra no período da tarde!

De tanto estar nesta parede, ministrando cursos e realizando escaladas guiadas, há tempos vinha vislumbrando a possibilidade de abrir uma via que fosse fácil, na casa do 3º/ 4º graus e também bem protegida.

O intuito desta nova via seria de servir como uma “via escola” para quem estivesse começando a guiar tradicionais. Uma via literalmente pensada para os guias iniciantes desta modalidade.

Existem poucas vias com estas características no Espírito Santo, e das que tem, estão à pelo menos 90 km da capital, como é o caso da Via Normal da Pedra Azul.

Ghiany Loss provando os cristais da segunda enfiada da via Novo Normal. Foto Oswaldo Baldin.

1ª Investida: No plano imaginário era pra ser a via mais fácil da parede

Depois de muuuuuito postergar, dando a vez para dezenas de outras conquistas que passaram na frente, finalmente numa manhã de 2019 (que não recordo o mês) chamei o Sandro pra essa conquista.

Apresentei a ele a proposta da tal “via tranquila”, analisamos o traçado da linha, combinamos o estilo de proteger (E1/E2), e começamos!

Mas já na primeira enfiada alguns lances mais técnicos em aderência e micro agarras já começaram a modificar a proposta imaginária da via tranquila.

A segunda enfiada entrou numa faixa da rocha em cristais, exigindo uma escalada técnica (V). E no final desta enfiada apareceu uma barriga de VI.

A essa altura o projeto inicial já havia sido modificado, e a ideia de uma via fácil foi por água abaixo… literalmente, pois começou a chover e tivemos que descer.

Mas, até ali a via ficou bem legal, com uma enfiada inteira em cristais e a que estava por vir mostrava ser em aderência: aquela miscelânea interessante.

Depois disso a conquista ficou por lá, parada, e então estourou a pandemia!

Vale fazer a última enfiada da Novo Normal para obter esta vista. Em destaque elevado, o Morro do Penedo. Foto Oswaldo Baldin.

2ª Investida: Na prática resultou na via mais técnica da parede

Numa janela de dias de folga trabalhística na última semana de 2020, coincidindo disponibilidade para o Sandro, Ghiany e eu, resolvemos sair do casulo da quarentena para algumas escaladas. E para começar lembrei deste débito de conquista no Morro do Vigia.

Fomos para a parede no período da tarde para desfrutar da sombra. Repetimos as duas enfiadas com todos escalando e provando que a via estava ficando muito interessante, com passagens técnicas e muito bem protegida: um E2 com cara de E1 (na maioria dos trechos).

Um grande destaque para o Morro do Vigia é sombra no período da tarde. Foto Oswaldo Baldin.

O Sandro saiu para conquistar a terceira enfiada e logo de cara viu-se movimentando em alguns lances técnicos em aderência, constatando a total mudança de estilo quanto à enfiada anterior, que era integralmente em agarras/cristais. Quase no final desta enfiada apareceu outra barriga, agora de VIsup, estabelecendo ali o crux da via.

Na P3, como a parede perdeu inclinação, avaliamos se a via deveria ser finalizada ali ou continuada. Acabamos optando por seguir. Eu estiquei os 60 metros da corda até o limite de rocha final da parede.

Reunidos na P4 apreciando um belo pôr do sol nos vimos todos com máscaras, encarando aquela nova e triste realidade dos tempos modernos. E foi aí que surgiu o nome da via: Novo Normal.

Cenário de vias até Maio/2022.

No rapel desci duplicando chapeletas, fabricando paradas intermediárias em todas as enfiadas, possibilitando o rapel de toda a via com apenas uma corda.

Do plano inicial de abrir a via mais tranquila da parede, o resultado foi que acabou sendo a mais difícil, mas ficou bem interessante, pela diversidade de estilos de escalada e por ter ficado muito bem protegida. Recomendo a repetição!

Essa conquista contou com o apoio da Bonier no fornecimento das chapeletas Pingo e da Associação Capixaba de Escalada subsidiando os parabolts e as paradas Smile.

SOBRE A ESCALADA

1ª enfiada: A primeira chapeleta é facilmente avistada dentro de uma canaleta à direita da caixa d’água. Após lances de aderência e pequenas agarras, toma-se à esquerda em diagonal até a parada.

2ª enfiada: É a enfiada mais legal da via. Toca-se em linha reta por um trecho da parede caracterizado pelos cristais, trecho este que inclusive transposto pelas outras vias. Quase ao final tem uma barriga. Termina em um platô de vegetação com parada bem confortável.

3ª enfiada (55m): Predominam lances de aderência, com algumas passadas técnicas. É bom administrar o tamanho das costuras usando algumas longas, pois a via vai para direita e depois toma à esquerda, passando por uma barriguinha onde está o crux de VI.

4ª enfiada: É praticamente uma caminhada, vale fazê-la somente se estiver com tempo, para desfrutar de um visual mais do alto.

EQUIPO

9 costuras, com 3 longas. 1 corda de 60 metros.

DESCIDA

Todas as enfiadas tem paradas duplas extras no meio (com chapeletas Pingo), o que possibilita o rapel de toda a via com apenas 1 corda de 60 metros. Se quiser agilizar use 2 cordas de 60 metros e rapele pelas paradas oficiais (com chapa de argola da Smile + Pingo) em 4 lances de rapel.

ACESSO

Pode-se entrar pelo portal do Parque Municipal Gruta da Onça ou à esquerda subindo a escadaria paralela. O acesso às vias é feito por uma casa de dois andares que tem uma escadinha na frente. Chame pelo Felipe e avise da sua passagem… A Brisa (cadela) tem que se identificar com você e permitir sua passagem mas, geralmente ela é bem receptiva. O início da via é à direita da caixa d’água e a primeira chapeleta (inox) é facilmente avistada.

DICAS

Recomendo escalar no período da tarde, pois é quando a parede está na sombra. Porém essa sombra varia: no verão por volta das 15h e no inverno mais cedo, por volta das 13h.

Detalhes sobre outras vias do Morro do Vigia/Gruta da Onça você encontra nas páginas 521-523 do livro Escalada Capixaba.


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